CASA DA PEDRA - 21/01/2018
O dia
amanheceu nublado e com pancadas de chuva isoladas, mas indicando que iria
firmar mais tarde.
Assim, como
o grupo era bem caminheiro e corajoso, ninguém desistiu da atividade. E, como
prêmio por esta perseverança, fomos presenteados com condições quase ideais
para se caminhar nesta época do ano - como teto de nuvens, pouca gente na
trilha e mar calmo e limpo para o banho. A única ressalva foi o clima de sauna,
que nos fez suar às bicas, especialmente na volta.
Chegamos à Casa
da Pedra - recanto rochoso às margens da Enseada de Itaipu e dividido entre o
Parque Estadual da Serra da Tiririca e a Reserva Extrativista Marinha de Itaipu
-, às 9h, depois de vencermos o trecho mais desafiador do roteiro: a rampa
natural de pedra.
No entanto,
os trechos de mato mais fechado e espinhoso que encontramos até ali também
exigiram bastante dos caminhantes. Tanto que teve gente toda ralada dos tombos
e das rasteiras dos arranha-gatos. Mas nada que a água salgada não curtisse.
Antes de entrarmos
na água, fizemos um lanche rápido. O teto de nuvens era tão formidável, que não
precisamos nos refugiar embaixo de sombra de pedras ou de árvores em momento
algum.
Para
facilitar e tornar mais seguro o mergulho, todos estavam calçados com papetes,
sapatilhas ou tênis, seguindo minhas recomendações, já que as cracas, os
mexilhões e os ouriços das rochas entremarés não perdoam os pés de ninguém.
Já para
proporcionar mais conforto dentro d'água, levei as famigeradas bóias infantis,
que o pessoal sempre faz muita gozação, mas que no final das contas acabam
sendo extremamente concorridas.
Ficamos
assim, curtindo aquele refresco extraordinário longe da muvuca, do barulho e de
banhistas sem educação que infestam as praias no verão.
Naquele
paraíso (quase) particular, passavam por nós praticantes de stand up,
pescadores amadores e aves marinhas. Cada um na sua e todos integrados àquele
lugar que, mesmo com todas as agressões que vem sofrendo nas últimas décadas -
como poluição de botas-fora, fundeio de suplyes e infestação por lixo flutuante
-, continua sendo extraordinário.
Saímos da
água quando já estávamos com frio - privilégio de poucos nessa época e nessas
bandas. E ficamos nos secando com toda a calma do mundo.
Só neste
momento, apareceram duas moças, que acharam que éramos gringos (num diálogo
hilariante com uma de nossas caminhantes).
Com elas
veio um labrador, que acabou se juntando com os dois cães que vieram nos
acompanhando sem que quiséssemos desde o início da trilha. Companhia esta que,
ressalte-se, destoa dos objetivos conservacionistas dos parques, devido aos
impactos que esses simpáticos animais causam aos ecossistemas visitados.
Três desses
impactos, inclusive, tivemos a oportunidade de presenciar: corridas atrás da
fauna, poluição sonora dos estridentes latidos e até destruição da flora (flagrei
uma bromélia sendo destruída por um dos cães, na provável tentativa de matar a
sede com a água nela acumulada). Isso sem contar com os bloqueios da trilha que
eles volta e meia faziam, ao simplesmente empacar no meio delas.
Ou seja, um
problema que, embora subestimado e muitas vezes negligenciado por apaixonados
por cães, precisa ser equacionado e resolvido, para evitar prejuízos maiores à
dinâmica ecológica local.
Começamos o
retorno por volta das 10h30, chegando de volta ao ponto de partida às 12h.
Mas, pouco
antes de descermos o morro, notamos que uma participante de outro grupo que ia
alguns passos adiante de nós, carregava várias bromélias, certamente retiradas
da mata - prática esta proibida por lei e extremamente prejudicial à
integridade dos ecossistemas nativos, a qual pode inclusive render multa e até
cadeia.
No intuito de
tentar evitar esse despropósito que também é crime ambiental, me adiantei e
abordei primeiramente os líderes desse grupo (que não identificarei, por
questões éticas), informando ser aquele local um parque estadual, onde é proibido
por lei qualquer tipo de coleta. Lembrei aos mesmos que era sua obrigação
conhecer essas regras e zelar pelo seu cumprimento. Felizmente a dupla
reconheceu seu erro e se comprometeu a não repeti-lo.
Só então me
dirigi à autora da coleta, explicando os impactos negativos que isso poderia
acarretar à biodiversidade daquela unidade de conservação, solicitando que ela
me desse as bromélias, me comprometendo a devolvê-las posteriormente ao local
de onde haviam sido retiradas (local este inconfundível, pois era o único onde
havia aquela espécie de bromélia, em flor, junto à trilha).
Esta
reinserção daquelas plantas em seu hábitat natural foi feito na quarta-feira
posterior à caminhada, junto com dois guarda-parques do Peset, conforme
registro fotográfico (disponível na galeria de fotos desta atividade,
disponível em: .
Enfim, além
de uma caminhada proveitosa - mesmo em dia de calor de sauna úmida -, ainda
contribuímos para a proteção da biodiversidade do Morro das Andorinhas. Nada
além de nossa obrigação, destaco.
Até a
próxima trilha!
Abraços,
Cássio
Garcez
Coordenador
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