26/10/2019 - MEIA VOLTA DA ILHA DE ITACURUÇÁ

Foto 1: a Praia da Maria Ruça deserta, graças ao tempo fechado.



Desde 2015 tentando refazer esta caminhada - que ao longo desse período teve que ser cancelada quatro vezes por causa de condições inapropriadas de tempo -, finalmente encerrávamos o jejum itacuruçaense.

No entanto, como que para não nos fazer esquecer desse padrão meteorológico chuvoso, o tempo bem fechado nos acompanhou praticamente do início ao fim do passeio, embora sem cair um pingo da chuva que estava prevista para o final do dia. Daí, apesar de as paisagens não terem aqueles brilho e cor que realçariam sua beleza num dia de sol, ficou bem mais agradável de se caminhar assim. E, mais ainda, por termos antecipado em meia hora a chegada a nosso destino, numa espécie de preparação para o horário de verão alternativo do Ecoando.

Desta forma, uma vez em Itacuruçá, embarcamos na voadeira Pulga II às 7h45 (foto 2), começando o circuito na Praia da Gamboa, na Ilha de mesmo nome, em sentido horário.

Foto 2: a travessia em voadeira até a Praia da Gamboa.


Neste local, onde há o maior adensamento populacional da Ilha, notamos que o crescimento que já vínhamos acompanhando há quase duas décadas havia se intensificado absurdamente. A ponto de, nós e aqueles que vêm nos acompanhando nesse roteiro, há anos, não reconhecermos alguns trechos - que viraram uma espécie de caricatura da expansão insular desordenada, onde até um prédio já existia!

Felizmente, andamos rápido o suficiente para deixar essa paisagem feia para trás e entrar naquela que ainda preserva o clima de povoado de caiçaras, com casas de quintais arborizados, muitas árvores frutíferas, ruas de terra e cheiro de mato.

Atravessamos para Águas Lindas em aproximadamente uma hora e meia, pegando uma trilha que passou por fora das grutas que são um dos atrativos desse trecho do caminho. Esse equívoco do guia, ocorrido por causa das alterações impostas aos caminhos e trilhas pelas novas casas, não seria o único neste dia. Ainda haveria dois outros, provocados por construções que antes não existiam, fechamentos de antigos trajetos ou mudanças de rotas tradicionais. Mas tudo resolvido em pouco tempo e com alguma paciência dos participantes.

Uma vez no caminho certo, chegamos às 10h45 à Praia da Maria Ruça, um dos grandes atrativos desse roteiro (fotos 1 e 3). Embora um pouco descaracterizada em suas feições originais, o lugar continuava belíssimo. E, o melhor: deserto!

Foto 3: relax na Praia da Maria Ruça, um dos maiores atrativos dessa caminhada.


Lá paramos por mais ou menos quarenta minutos, para quem quisesse lanchar, entrar na água ou simplesmente contemplar a paisagem.

A maré baixa, que deixou uma larga faixa de areia junto ao mar, aliada à placidez das águas da Baía de Sepetiba e àquele tempo mais fechado, eram fatores que tornavam ainda mais interessante nossa estada ali. Isso porque, era inevitável a lembrança da Ilha Grande em seus bons tempos de turismo mais brando. Que nostalgia!

Para completar, um bando de botos-cinza (Sotalia guianensis) apareceu na nossa frente, em suas evoluções a procura de comida. Aproveitei para falar ao grupo sobre essa espécie de golfinho, cuja ocorrência na Baía de Sepetiba é considerada por pesquisadores como a maior do mundo - mesmo apesar da mortandade que começou no final de 2017 e matou quase 200 botos até o final do ano passado, devido a um vírus (a morbilivirose, que atinge o cérebro e os pulmões dos cetáceos, mas não é transmissível ao ser humano).

Com população estimada em 1.000 indivíduos antes desse evento (há quem dissesse 700 a 2.000), o boto-cinza, que pertence à família Delphinidae (que possui mais de 40 espécies), ocorre desde a América Central até o litoral de Santa Catarina. Somente na Baía de Sepetiba é possível observar centenas de golfinhos juntos, no fenômeno conhecido como agregação.

As características da baía de Sepetiba - que também é um estuário e contém diferentes salinidades, profundidades e abrigos, além de farta alimentação e proteção contra predadores -, são decisivas para tão grande aglomeração desses mamíferos aquáticos.

Estes animais vivem de 30 a 35 anos, são parentes das orcas e as fêmeas dão à luz a um filhote por vez, numa gestação de 11 meses. A amamentação se prolonga por dois anos, até que o pequeno boto consiga caçar seu alimento (peixes em sua maioria, além de moluscos e camarões) por conta própria. No entanto, a maturidade só chega aos 6 anos de idade, com o início da reprodução.

Entretanto, ameaças como a pesca predatória, a captura incidental em redes de pesca, o intenso trânsito de navios, a dragagem de canais para o Porto de Itaguaí e a poluição crescente da Baía de Sepetiba (rejeitos químicos, metais pesados e esgoto in natura) têm colocado em risco não apenas a sobrevivência dos botos-cinza nesse local, mas também virtualmente todos os ecossistemas aí localizados, outras espécies animais e vegetais, as próprias populações de pescadores tradicionais e as atividades do turismo.

Por sua importância ecológica e carisma, os botos são considerados como uma espécie guarda-chuva (ou seja, que ajuda a proteger não apenas à sua espécie, mas o próprio ecossistema que o abriga), além de estarem na Lista Nacional Oficial de Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção desde 2014, com o status de Vulnerável.

Antes de sairmos da Maria Ruça, ainda chegaram dois grupos, um de caminhantes e outro de crentes. Cumprimentamos a todos e seguimos nosso caminho, que só foi interrompido numa parada, obrigatória, em píer bem construído e estratégico, que serve a uma casa há anos desocupada. Lá descansamos, contemplamos a paisagem, vimos tartarugas e falamos sobre o Quilombo da Ilha da Marambaia, que estava em nosso campo de visão. E também ficamos imaginando como seria bom passar alguns dias naquela casa tão integrada à natureza...

Foto 4: o píer de parada obrigatória.


Chegamos à Prainha, outrora conhecida como Praia da Viola, às 13h30. Mas ninguém quis cair, já que a frequência de barraqueiros com suas aparelhagens de som a todo volume não animou ninguém. Assim, seguimos para a Praia Grande, que tinha pouco movimento e menos ruído. Ufa, que alívio...

Lá, buscamos o bar da Dona Wilma (foto 5), no final da praia, onde comemos pastéis e nos refrescamos para a última etapa, que entremearia trilhas, prainhas e passagens espremidas entre casas e o mar ou a mata - resultado tanto do crescimento desordenado, quanto da falta de critérios coerentes de construção naquela área.

Foto 5: visual do bar da Dona Wilma.


Como depois da Praia da Flecheira novamente enfrentaríamos o trecho mais adensado e feio da Ilha, resolvi encerrar a caminhada ali, às 15h45. Enquanto aguardávamos o barqueiro (foto 6), aproveitamos para alongar, relaxar e curtir as vistas do canal e da Serra do Mar.

Foto 6: grupo aguardando o barqueiro, na Flecheira.


Depois da travessia e a bordo do Andarilho (a minivan do Ecoando), levamos menos de duas horas até Niterói. Ou seja, um trajeto bastante fluído, em se considerando as intermináveis e caóticas obras na Avenida Brasil.

Veja o relato desta atividade, em: http://www.trilhasdoecoando.blogspot.com. E, para ver as fotos completas, acesse: https://www.ecoando.eco.br/galeria-de-fotos/.

Até a próxima trilha!

Abraços,

Cássio Garcez
Coordenador

Comentários

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