PICO DO SACOPÃ (substituindo a TRAVESSIA JARDIM BOTÂNICO-PAINEIRAS) - 04/02/2018




Devido às notícias sobre novos e recentes episódios de aumento da violência na Rocinha - além de enfáticas recomendações de policial que conhece bem a área onde andaríamos, para evitá-la -, tomei a decisão de cancelar o roteiro originalmente marcado para esta data, a Travessia Jardim Botânico-Paineiras, substituindo-o por este.

Isso porque, as trilhas daquele setor do Parque Nacional da Tijuca (Serra da Carioca) não raras vezes - quando a chapa esquenta - são usadas como rota de fuga ou esconderijo de alguns bandidos que debandam daquela favela. Daí, todo o cuidado é pouco.

No Pico do Sacopã, embora também na Zona Sul do Rio, não correríamos esse risco de dar de cara com fugitivos, pois o mesmo se situa no Parque da Catacumba, uma unidade de conservação municipal que é uma ilha de tranquilidade no burburinho da Lagoa Rodrigo de Freitas.

Além disso, o lugar tem apenas um acesso, possui vigilância e é bastante frequentado por famílias, caminhantes e praticantes de arvorismo. E não decepciona em seus atrativos cênicos, históricos e geológicos.

Assim, explicado o motivo da alteração na programação e com o sentimento do dever de sempre priorizar a segurança dos participantes cumprido, passemos ao relato da atividade.

Iniciamos a caminhada antes do horário planejado, às 7h30, dando uma volta na orla da Lagoa para aguardar a abertura dos portões do Parque.

Nesse inesperado passeio, tivemos a oportunidade de observar o desenvolvimento do manguezal plantado pelo biólogo Mário Moscatelli ao longo de anos de trabalho solitário e abnegado; aves como frangos-d'água, socós, urubus e fragatas em suas rotinas; e o diversificado movimento de frequentadores. Apenas um aquecimento para o que viria depois.

Um pouco antes das 8h, atravessamos a passarela e chegamos ao Parque da Catacumba, encontrando os portões já abertos.

Começamos a caminhada propriamente dita depois dos preparativos e do bate-papo, chegando no Pico do Sacopã por volta das 9h. Não havia ninguém além de nós lá, assim como na trilha.

Embora as vistas desse mirante natural sejam realmente espetaculares - abrangendo desde as Ilhas Cagarras e Tijucas, até os morros Dois Irmãos, Pedra da Gávea, Maciço da Tijuca, Lagoa Rodrigo de Freitas e o Corcovado - o crescimento da vegetação está limitando-as - o que não é algo a se lamentar, pelo contrário. É sinal do sucesso da restauração florestal que vem sendo feita há décadas.

Esta e outras informações sobre o local - que já foi um suposto cemitério indígena (daí a razão do nome "Catacumba", para o Parque), onde existiu até a década de 1970 uma favela com mais de 10 mil moradores e que já fez parte de uma fazenda gigantesca - eu ia repassando ao grupo, à medida em que íamos caminhando. Assim como curiosidades dos arredores e de episódios insólitos (como a primeira guerra biológica que se tem notícia nas Américas, de colonos portugueses contra os índios).

Com a chegada de um pequeno grupo, partimos para o outro mirante, o do Urubu, de vistas mais abrangentes, distante alguns minutos apenas do primeiro.

De cima da estrutura de madeira e tubos de aço, pudemos curtir melhor as vistas, inclusive da imponente Pedra do Cantagalo, que é contígua ao Parque. E também observar uma revoada de dezenas de urubus logo acima de nós, aproveitando uma térmica (corrente de ar ascendente) para subir. O nome do mirante não poderia ser mais adequado.

Começamos a descida pela outra perna da trilha, chegando lá embaixo às 10h30, satisfeitos com a proveitosa substituição de roteiro. Embora eu, no íntimo, estivesse um pouco frustrado de ter sido obrigado, pela violência, a alterar a programação de atividades.

Até a próxima trilha!

Abraços,

Cássio Garcez
Coordenador


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