CIRCUITO LAGOA VERMELHA - 09/06/2018
Muito
embora o primeiro reconhecimento que fiz desse roteiro tenha sido há mais de 15
anos (quando cheguei a colocá-lo na programação do grupo, sem que ninguém contudo
se interessasse por ele), somente agora conseguíamos estreá-lo. E superando as
expectativas.
O dia
estava bem encoberto e até fresco, o que seria ideal para um trajeto com pouca
sombra como este. Iniciamos o circuito por volta das 9h, em Praia Seca,
adentrando duas das últimas salinas ainda em operação na região, a Carvalho e a
Almira.
Aproveitei
a passagem ao lado dos cristalizadores, dos barracões carcomidos pela maresia e
dos alvos montes de sal, para repassar ao grupo a história dessa indústria no
estado, desde os primórdios (com a exploração artesanal feita por índios, em
depressões próximas à Laguna de Araruama), passando pelo pioneiro Luiz
Lindemberg, ordenança de D. Pedro I,até seu auge na década de 1950 e sua
decadência 20 anos depois.
A ausência
de vento nas primeiras horas da caminhada, coisa rara naquele local, tornou
ainda mais espetaculares os cenários. Era como se todas as paisagens estivessem
duplicadas, devido ao seu reflexo no espelho d'água das salinas e da Lagoa
Vermelha. Tiramos muitas fotos e babamos muito.
Faríamos o
sentido anti-horário do circuito, visitando primeiramente a Praia de
Massambaba. O mar estava de ressaca e uma névoa nos impedia de ver a Ilha de
Cabo Frio, a leste.
Depois
desse banho de maresia, retornamos à restinga buscando o acesso a um dos
limitadores construídos há décadas com o objetivo de dividir a lagoa em
espelhos d'água menores, de forma a provavelmente concentrar sua salinidade
para a exploração industrial. Embora a caminhada em cima desse estreito aterro
seja um pouco mais difícil, todos conseguimos chegar sãos e salvos do outro
lado.
Como havia
uma linha de espuma bem consistente colada a esse limitador, em sua margem nordeste,
interpretamos que o vento, responsável por esse curioso fenômeno, vindo de
sudoeste, deve ter sido forte no dia anterior.
Na margem
norte, onde tentávamos caminhar agora, havia ou trechos bem alagados ou outros
cuja vegetação impedia o progresso. O jeito foi tirar o calçado e andar até os
calcanhares mergulhados nas rasas, cristalinas e frias águas da Vermelha.
Andamos
descalços por mais ou menos uma hora, até alcançarmos uma das pontas mais
simpáticas da lagoa, onde há duas casuarinas já com suas raízes imersas, às
11h30. Lá fizemos nosso primeiro lanche.
Neste
trajeto, já havíamos encontrado alguns estromatólitos, estruturas biogeológicas
raras que contam um pouco da vida na Terra, sobre as quais conversamos muito. E
que fazem da Lagoa Vermelha um dos lugares mais importantes do mundo no que se
refere à biologia, à paleontologia e à preservação. Isso sem contar com sua
importância para a ornitologia, a história, a pré-história, e outros campos do
saber humano.
Depois do
lanche, ao invés de seguir descalços pela orla da lagoa, agora seguiríamos por
propriedade rural que beira a mesma, que pertence a uma empresa imobiliária que
cria gado no local. E onde ocorre as cada vez mais raras formações arbóreas de
restinga, que são florestas que representam os estágios mais avançados e
calibrosos de desenvolvimento desse tipo de ecossistema.
Embora eu
tentasse descobrir algum acesso que nos permitisse voltar à orla da Lagoa, o
canal que circunda a maior parte dela era tão profundo ali que tornava
impossível sua travessia. O jeito foi continuar pela estradinha da propriedade
até sairmos em Vilatur, já em Saquarema.
Neste
loteamento, andamos durante alguns minutos até encontrar a trilha que nos
levaria de volta ao mato. E onde vimos uma equipe do Inea fazendo uma vistoria
de rotina. Aproveitamos para bater um papo com eles.
Como havia
uma funcionária do Parque Estadual da Costa do Sol conosco, a unidade de
conservação que protege a Lagoa Vermelha e outras áreas da Região dos Lagos, o
encontro foi muito festejado pela equipe. Isso porque, além de seu trabalho
nesta unidade de conservação ser reconhecido como de alta qualidade, a mesma
está de licença. Aproveitamos para aprender mais e estreitar laços com esse
pessoal, nesse encontro tão cordial e esclarecedor.
Continuamos
nossa caminhada agora pela área de restinga que sofreu muito com um incêndio
criminoso em abril deste ano, por ter consumido grande parte de sua flora e
fauna. Uma tristeza! Só depois de meia hora de caminhada é que saíamos da zona
de destruição para aquela que havia escapado do fogo.
Mais
adiante, pegamos um desvio à esquerda, que levava a uma espécie de ponte
submersa no canal marginal, quando só então conseguimos retornar à orla da
lagoa.
No entanto,
ao invés de continuarmos pelo sentido anti-horário do percurso, retornamos
algumas centenas de metros beirando a lagoa, de modo a chegarmos na ponta de um
outro limitador lagunar, este destruído pela natureza.
O lugar era
de uma beleza tocante, pois aí ficava mais evidente a claridade da água (o que,
com sol, deve ser ainda mais espetacular), havia uma profundidade melhor para o
banho (embora apenas um participante se animou a cair) e a visão do conjunto
lagunar era mais abrangente. Nos demoramos um pouco mais aí, seja para
descansar, curtir as vistas ou fotografar.
Recomeçamos
a caminhar às 14h30, seguindo pela estreita praia lagunar, até onde foi
possível. Quando o caminho era bloqueado por casuarinas caídas, subíamos o
monte formado pela dragagem do canal, que o separa da lagoa, onde estão
efileiradas centenas de casuarinas e um tapete de vegetação rasteira.
Em
determinado local, o tal monte foi tão erodido pelas correntes e pelo vento, que
se abriu um espaço de uns 50
metros de largura, o qual tivemos que atravessar com
água pelos joelhos.
Por volta
das 15h30, fechávamos o circuito, ao encontrar o início do limitador por onde
caminhamos, nos primeiro momentos da atividade. Como estávamos perto do mar,
resolvemos ir vê-lo novamente. Sábia decisão!
As ondas
agora estavam ainda mais altas do que mais cedo, além da Ilha de Cabo Frio
estar totalmente visível agora. Além disso, tivemos a oportunidade de ouvir
alguns causos dos pescadores que ali estavam, sobre a passagem de tubarões e
baleias pelo local, além da fartura de pescado. Valeu à pena esse repeteco.
Voltando
por outro caminho às salinas, chegamos de volta aos carros às 16h20, felizes
com caminhada tão rica, bonita e bem aproveitada como esta.
Aproveitamos
para esticar até restaurante, em Praia Seca, que serve comida muito honesta e
de bom custo-benefício. O nome do mesmo é Hot Batata. Mas comemos mesmo foi um
franguinho no bafo delicioso.
Abraços,
Cássio
Garcez
Coordenador
P.s.: veja
as fotos deste e de outros passeios do Ecoando, em: http://www.ecoando.eco.br/galeria-de-fotos/.
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