TRAVESSIA CUIABÁ-BREJAL - 19/05/2018




Numa caminhada onde seus participantes dependem de transporte público - como era este o caso - a sincronia no tempo (o tal do timing) é um fator não apenas desejável, mas muitas vezes crucial para o sucesso da atividade.

Isso porque, caso se perca um horário de saída de ônibus, pode-se perder por tabela horas valiosas de passeio, de oportunidades de melhor curti-lo e de maior tranquilidade no retorno para casa.

E, nesta atividade, mostramos que não brincamos em serviço neste quesito. Como vou relatar ao longo desse diário de trilha.

Chegamos a Itaipava pouco antes das 8h30, em cima do horário de saída do ônibus para o Vale do Cuiabá. Não perdemos tempo estacionando o Andarilho (a minivan do Ecoando), além de correr o quanto podíamos até a estação de integração.

Da rua, vimos o coletivo saindo de sua baia em direção à saída do terminal. Sebo nas canelas! Me adiantei aos demais, conseguindo alcançar o transporte quando ele fazia a manobra para seguir seu caminho. Por sorte o motorista era camarada e nos deixou embarcar ali mesmo.

Ufa! Agora podíamos relaxar, sabendo que não iríamos ter que esperar por aproximadamente 40 minutos pelo outro ônibus, o que atrasaria todo o cronograma posterior.

Depois de atravessarmos todo o Vale do Cuiabá, saltamos no ponto final, pouco antes das 9h, começando a caminhada depois de um rápido bate-papo e alongamento.

Seguimos a bela e pouco movimentada estradinha, que foi palco da tragédia das chuvas de abril de 2011 (juntamente com praticamente toda a extensão do vale que acabávamos de atravessar) e da qual ainda era possível ver marcas de sua destruição.

Como fazia frio, só depois de bastante tempo caminhando é que conseguimos tirar nossos agasalhos.

Às 11h30 atravessamos o limite de municípios, adentrando Teresópolis, pelo menos durante algumas poucas horas.

Chegamos à barreira que foi aberta sabe-se lá para quê morro acima, 15 minutos depois.

Neste momento, um senhor de meia idade nos alcançou e começou a puxar conversa. Para minha feliz surpresa, ele não era ninguém menos do que o Cro Magnon, guia montanhista parceiro do Fernando Cavaliere, da Ar Livre Ecoturismo, o grupo mais antigo de caminhadas ecológicas do Rio de Janeiro! Fiz uma festança com tão inusitado e feliz encontro!

Tive dificuldade em deixar a prosa com ele e retomar a caminhada, mas era preciso fazer isso. O guia pioneiro voltou para seu treinamento e nós continuamos seguindo mais para acima, onde lanchamos em um patamar mais elevado da barreira. Embora o sol quisesse aparecer neste momento, ainda era agradável ficar fora da sombra das árvores.

Recomeçamos a caminhada adentrando a "Super Bonder", trilha que já foi muito utilizada por jipes, mas que agora só continua sendo destruída por motos fora-de-estrada. Algumas das quais encontramos apenas uma vez (felizmente!) e já depois de sair desse que é o trecho mais complexo do trajeto.

O nome peculiar foi dado pelos jipeiros, por causa da frequência com que os veículos ficavam "colados" nas paredes da trilha. Os mesmos foram obrigados a abandonar o trecho superior dessa via, depois de desmoronamentos devido a chuvas.

Já para caminhantes, como nós, a dinâmica é justamente o contrário da cola. Isso porque, pelo meio do sulco cuja erosão é agravada pelas motosc escorre uma aguinha que se mistura à argila, transformando-a num sabão onde é quase impossível não levar pelo menos um tombo.

No entanto, mesmo com esses rasgões no solo e esse risco de escorregões, este curto trecho é um dos mais interessantes e peculiares do trajeto. Especialmente em seu final, quando a trilha se transforma em um mini desfiladeiro formado por um tipo de saibro ou moledo branco, mais amigável inclusive de se caminhar.

Terminada a Super Bonder e chegamos a um dos trechos mais bonitos do roteiro, onde começa a longa estradinha que leva direto ao Brejal, primeiro subindo um pouco, para logo a seguir descer sem parar.

Entre as dezenas de lavouras de chuchu, estão inúmeras araucárias e remanescentes florestais, além de montanhas dos mais variados formatos e alturas. Somente depois de começar a descida, reentramos em Petrópolis.

A partir daí, surge a visão de grandiosas pedras, como a Tapera e o Juriti, que embelezam sobremaneira o percurso. Há também algumas propriedades muito bonitas, com pastagens bem cuidadas, criações de perus e lavouras que lembram pinturas.

Chegamos ao ponto final da caminhada, no centrinho do Brejal, onde há um incipiente comércio, um pouco depois das 15h. Como o ônibus só iria passar daí a 40 minutos, esse era a deixa providencial para quem quisesse comer ou beber algo, com tranquilidade, na única lanchonete do lugar, que também é bar e fábrica de bolos ao mesmo tempo.

Da mesa em que escolhemos ficar, observávamos a rotina dos moradores: alguns cortando o cabelo, um bêbado indo de lá para cá todo feliz, trabalhadores transitando de moto ou caminhões, cachorros de rua andando em todos os lugares. Um desses adotou um de nossos caminhantes, que quase o levou para casa de tanta empatia.

O ônibus veio na hora certa, onde embarcamos junto com alguns moradores. Em menos de uma hora chegávamos ao distrito petropolitano da Posse, poucos minutos antes da chegada do ônibus que nos levaria de volta a Itaipava.

Embora a previsão fosse de probabilidade zero de chuva, o horizonte a sudoeste não confirmava essa estimativa da meteorologia.

Foi o tempo quase cronometrado de irmos ao banheiro e chegarmos no ponto, quando então encostou o ônibus. O mesmo demorou a abrir suas portas em cinco minutos mais ou menos, o período exato até que a chuva começasse a cair. Ufa, mais uma vez usufruíamos da sincronia exata!

Foi um temporal daqueles de encher as ruas e derrubar barreiras. Mas parecia que o motorista de nosso ônibus não se importava com o aguaceiro. Ele corria tanto na Estrada União Indústria, que o coletiva parecia uma lancha, levantando os "bigodes" de água e espuma, dando banho em quem estivesse em seu caminho.

Tal comportamento deve ter sido decisivo para danificar alguma peça do motor, encharcando-a e fazendo-o parar. Felizmente isso aconteceu quando já estávamos perto de Itaipava e momentos antes de um outro ônibus passar, indo para o mesmo terminal de integração. Nele embarcamos rápido, nos levando em pouco tempo a nosso destino. Mais uma feliz sincronia!

Por sorte a chuva já tinha ido embora, mas ainda assim quisemos garantir a segurança, dando tempo numa lanchonete local, onde nos reabastecemos.

Pegamos a estrada bem molhada, mas sem chuva alguma, chegando sãos, salvos e felizes em Niterói.

Nossos parabéns ao grupo, por sua proatividade nessa busca pela sincronia, se apressando quando necessário e encorajando o guia a correr quando já parecia não haver tempo.

Abraços,

Cássio Garcez
Coordenador

P.s.: veja as fotos deste e de outros passeios do Ecoando, em: http://www.ecoando.eco.br/galeria-de-fotos/.

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