CIRCUITO SERRA DO CALABOCA - 23/06/2018
O dia
estava ensolarado, mas com uma névoa seca misturada à poluição que dificultou
um pouco a contemplação das paisagens.
Iniciamos a
caminhada às 8h30, num condomínio que fica bem no início de Santa Paula, em direção
ao Caminho de Cordeiros.
Ao chegarmos
à cumeeira da Serra do Calaboca, limite entre os municípios de Maricá e São
Gonçalo, contei a história desse e de outros caminhos centenários da região,
que deram passagem não apenas a desbravadores e colonizadores, mas também a
tropeiros que foram instados a transportar mais gêneros alimentícios para a
Corte, depois que a Família Real veio com um séquito de 18 mil novas bocas
fugidas das tropas napoleônicas, em 1808.
Estas e
outras informações eu ia repassando ao grupo à medida em que caminhávamos. Como
sobre a mudança de nome da serra de Itaitindiba para Calaboca, a passagem de
José de Anchieta pela área, no século 16, a história da escrava que se suicidou da
Pedra de Itaocaia (a qual víamos de determinados trechos da trilha), contada
por Darwin, a experiência do primeiro governo democrático brasileiro
implementado por gonçalenses, durante cinco meses, entre 1660 e 1661 (a Revolta
da Cachaça), e outras tantas.
Ainda bem
que a riqueza histórica era grande, porque o patrimônio ambiental do lugar, que
já fora depauperado durante décadas de atividades econômicas degradadoras
(mineração, pecuária, cultivo do eucalipto) e que vinha tentando se recuperar
espontaneamente, está novamente ameaçado. Desta vez por uma atividade
considerada "esportiva", como o enduro motociclístico.
Assim, além
das valetas provocadas pelo atrito dos pneus das motos com a superfície das
trilhas e estradinhas estarem agravando em muito a erosão do solo (já que
canalizam a água das chuvas, carreando cada vez mais terra), as mesmas
dificultaram demais a caminhada em determinados trechos do roteiro. Há até o
início de voçorocas (rasgos tão graves de erosão que podem engolir morros
inteiros) que me obrigaram a optar por um outro caminho, na descida, devido ao
risco de acidentes. E cuja opção foi quase tão ruim quanto a da vinda.
Até
chegarmos ao cume do Morro do Calaboca, tivemos a sorte de ter passado por nós
somente ciclistas e um grupo de motociclistas mais ponderados, que diminuíram
sua velocidade ao nos ver na trilha. Coisa rara em se tratando desse pessoal.
Chegamos
por volta da 11h30 ao cume, que estava totalmente invadido por mato, ao
contrário de anos anteriores, onde praticantes de voo livre faziam a manutenção
do local mantendo aparado o capim invasor e transitáveis os acessos.
Como as
voçorocas inviabilizaram até a chegada de jipes ali, talvez seja esse o motivo
do abandono do local pelos voadores. Uma lástima, já que aquela área tem
grandes potencialidades para o ecoturismo e atividades esportivas como o voo
livre, o bicicross, as corridas de aventura, etc.
Também o
maior atrativo do lugar - as vistas das paisagens circundantes - estava
prejudicado devido à névoa seca mistura com poluição. Mesmo assim, conseguimos
ver grande parte da Serra dos Órgãos, incluindo as pedras do Sino e do
Garrafão, os Três Picos, o Caledônia e o Alto do Guyá, ponto culminante de São
Gonçalo e tríplice fronteira com os municípios de Maricá e Itaboraí.
Lanchamos à
sombra da antena de telefonia que lá existe, ficando aproximadamente 40 minutos.
Para evitar
a embrionária voçoroca e os riscos a ela associados, como mencionado acima,
optei por levar o pessoal por uma trilha alternativa, que da última vez em que
estive ali, era bem amigável de se caminhar. Era, não é mais...
Nela, tivemos
que nos equilibrar ou dentro das canaletas erodidas pelas motos de enduro ou em
cima de finas arestas de terra que sobraram entre uma e outra erosão. Teve
gente querendo bater no guia por causa dessa descida mais acidentada, mesmo
sendo ela mais segura que a da vinda.
Por sorte,
esse trecho era relativamente pequeno e as reclamações diminuíram quando
chegamos de volta ao caminho original. Mas só por enquanto.
Terminamos
a caminhada por volta das 14h, duas horas há mais do que o previsto. E com 7 quilômetros
trilhados, dois a mais do que o estimado. Motivos para alguns malharem ainda
mais o guia.
Antigamente,
pelo menos no Ecoando, esses acréscimos não programados e comuns nesse tipo de
atividade costumavam ser celebrados como canjas, brindes ou bônus pelos
participantes. Algo do tipo: "comprou quatro maçãs e ganhou cinco".
Hoje em dia, isso só acontece de vez em quando.
Seria este
um dos sinais da passagem do tempo no grupo? Afinal, em agosto a organização
completará 25 anos de fundação, cuja maior parte dos adeptos de suas atividades
é composta por pessoas acima dos 45 anos de idade.
Daí, a
hipótese mais plausível é de que não seriam as trilhas que estão se tornando
mais difíceis, ou mais longas, ou ainda mais demoradas. Seríamos nós,
ecoandistas, que estamos envelhecendo!
Nada, porém
- se for isso realmente - que não possa ser resolvido com atividade física
regular e orientada, alimentação equilibrada, bons hábitos e atitude positiva
diante dos desafios. E isso não apenas em relação às caminhadas, mas à própria
vida!
Se não dá
para escapar do envelhecimento, que ele aconteça então com saúde e sempre com a
ajuda das caminhadas ecológicas!
Abraços,
Cássio
Garcez
Coordenador
P.s.:
brincadeiras à parte, as críticas ao trabalho do Ecoando são tão importantes
que serão acatadas (aquelas pertinentes e viáveis), especialmente no que se
refere aos níveis de dificuldade. Os mesmos já estão sendo revistos e serão em
breve alterados, buscando aprimorar essa classificação.
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