ILHAS MARICÁS EXTRA - 02/02/2019




Embora tivéssemos feito este roteiro há menos de um mês, decidi fazê-lo novamente, a pedidos, mas com novidades - como o início antecipado, o guiamento também embaixo d'água e a ênfase no banho de mar.

Afinal, nada como se integrar ainda mais às águas marinhas justamente no dia de sua rainha, Iemanjá. Talvez por isso, fomos presenteados com ondas bem baixas e mar limpo e claro, assim como o céu.

Com o intuito de evitar os horários mais sacrificantes do sol, batemos o recorde de busca do pessoal em casa para um roteiro tão próximo. Tanto que chegamos à Praia do Francês alguns minutos antes do nascer do sol, que não vimos pela ilha estar entre nós e o nascente, durante a travessia. Nosso barqueiro, o mais experiente daquela região, já estava a postos nos aguardando.

Levamos 15 minutos até o ponto de desembarque na ilha maior - os costões mais próximos ao Farol da Marinha -, para iniciarmos a visita pelo Cemitério dos Mariscos, onde chegamos às 7h do horário de verão (ou seja, 6h do horário normal), caminhando pelas pedras extremamente pontiagudas, ásperas e muitas vezes escorregadias daquela área.

Por isso, desde o desembarque, recomendei extremo cuidado às participantes nesse trecho da caminhada. No entanto, mesmo com toda a atenção, acidentes acontecem, como o que vou relatar a seguir. Mas, felizmente, o mesmo não foi grave, embora bastante aflitivo.

Ao tentar acessar uma das piscinas naturais do lugar, uma participante escorregou no limo e caiu, buscando se amparar com as mãos. De início, achamos que ela tinha ganho apenas algumas escoriações, coisa bastante natural numa caminhada ecológica. Isso até nos darmos conta de que seu dedo mínimo estava dobrado para trás (trauma posteriormente diagnosticado como luxação e não fratura).

Apesar de ser uma imagem impressionante o dedinho de nossa colega de trilha virado ao contrário, ela não apresentava nenhum outro ferimento mais preocupante. E fora o susto, a mesma estava bem, embora naturalmente abalada.

Até cheguei a me oferecer para tentar recolocar o dedo no lugar, mas a caminhante, que é enfermeira de profissão, preferiu aguardar para que isso fosse feito por um especialista.

Assim, identificação de lesões feita e situação controlada, era chegada a hora de usar o sistema de gestão da segurança, cujo primeiro passo seria contatar o barqueiro via celular - o que não funcionou. Também tentei falar com a família do mesmo, que costuma ficar de sobreaviso, igualmente sem sucesso.

Daí, como a participante estava mais calma e em condições de caminhar, avaliei ser melhor prosseguirmos aos poucos e com muito cuidado pela trilha para não só buscarmos ajuda na Praia da Galheta - o local mais movimentado da ilha maior -, mas também evitar dividir o grupo.

E assim fomos nós, pausadamente e com muita atenção, até a "capital" das Maricás.

Chegamos lá quase simultaneamente ao nosso barqueiro, onde em princípio encerraríamos o passeio para eu poder encaminhar as outras participantes a suas casas e acompanhar a acidentada ao hospital. Esse era o protocolo.

No entanto, diante dos insistentes e bem fundamentados argumentos  da acidentada e do próprio barqueiro (pessoa em quem confio bastante e há muito tempo), mudei de ideia - não antes de muita ponderação e persistência minha em manter o protocolo.

O motivo principal da mudança era o compromisso eloquente do barqueiro em levar a caminhante até a casa dele, onde seus familiares cuidariam daquela até a chegada do motorista de aplicativo - que também era conhecido da família.

A atitude em delegar minha responsabilidade na segurança e bem-estar da acidentada a um terceiro, tinha como base não apenas a confiança na competência, na experiência e no bom senso do pescador, mas também o fato de o mesmo ser o barqueiro que mais salva e safa acidentados e pessoas com problemas no arquipélago.

Desta forma e com a certeza de que aquela seria a melhor decisão para todos, nos despedimos de nossa colega. Com tristeza, é claro, já que além da empatia pela sua dor, também deixaríamos de ter uma companhia de qualidade no restante do passeio.

No final das contas, o mais importante é que tudo se resolveu da melhor forma possível, como fomos confirmando ao longo do dia em comunicados frequentes com aquela. Além de também comprovar a eficiência da estrutura de apoio e de cuidados fornecidos pelo barqueiro e sua família. Nossos agradecimentos a ele e aos seus.

Igualmente ficamos sabendo que o polegar da outra mão, que não aparentava nada demais, havia se fraturado, o que rendeu junto com a luxação duas luvas de imobilização e mudanças inesperadas nas férias recém-começadas de nossa colega de trilha... Nada que alguém com um alto astral admirável como o dela não tirasse de letra.

Com o novo protocolo adotado, o restante do passeio estava salvo para as outras participantes, que desde o início se comportaram de forma exemplar em sua proatividade, companheirismo e compreensão das consequências do acidente para o roteiro (ou seja, sua provável interrupção, o que felizmente não foi necessário, como explicado acima).

Desta maneira, mesmo sentindo a falta da colega e ainda nos recuperando do susto, nos esforçamos para curtir a maior parte do que tínhamos planejado no roteiro. Como o mergulho no naufrágio do navio Moreno, de 1874, nossa próxima etapa.

Entretanto, a única participante que havia trazido o equipamento de mergulho além da acidentada, não tinha experiência e segurança suficientes para nadar as poucas dezenas de metros até a Ponta da Galheta, onde se encontram o destroços do vapor, a partir dos 2 metros de profundidade. Ela preferiu ficar brincando na segurança da prainha, enquanto eu ia insistir no cumprimento da atividade, ainda que sozinho.

Mas este foi um bate-e-volta apenas, pois não queria me afastar das caminhantes por muito tempo. Daí, continuamos nos banhando nas límpidas águas da enseada, ou caminhando nas pedras para explorar a fenda que quase divide a ilha em duas, ou ainda visitando os promontórios voltados para o oceano. É que nesta versão da visita, ao contrário das anteriores, não caminharíamos até as praias da Fenda e do Saco, no extremo nordeste da ilha maior - por isso o período um pouco maior para explorações, antes do mergulho na Praia do Saco.

Reembarcamos para fazer esta segunda parte do passeio um pouco antes das 12h, embora sem conseguir desembarcar naquela última praia por causa do vento leste, frontal, e também devido ao haver lixo flutuante no local. Em compensação, fizemos a navegação de contorno do arquipélago, visitando a mesma fenda que exploramos há pouco, além de outra muito bonita e extensa, esta próxima ao Cemitério dos Mariscos.

Adentramos tanto essas fissuras, que podíamos tocar com as mãos suas paredes. A placidez e a cor azul turquesa das águas desse lado oceânico eram outros grandes atrativos.

Embora pretendêssemos inaugurar outras novidades, como o desembarque na Ilha Anexo, já havia gente enjoando e pedindo para retornar, de medo, embora houvesse segurança suficiente. Claro que acatamos o pedido, aproando a voadeira em direção à Praia do Francês assim que dobramos a ponta sudoeste do Anexo. Chegamos por volta das 12h30 às grossas areias do praião continental.

Mesmo com o estresse do pequeno mas preocupante acidente, o restante do grupo pôde curtir um bocado esta versão repaginada da visita às Ilhas Maricás, que foi aprovada e será repetida assim que possível.

Em tempo: depois de deixar as participantes em casa, liguei para a "menina do dedo". Ela havia sido atendida no Hospital das Clínicas de Niterói, medicada e estava comprando medicamentos numa farmácia. Acabei levando-a para casa, oportunidade que tivemos para conversar mais sobre o episódio, os providenciais cuidados do barqueiro e de sua família, e a preocupação de todos nós com seu bem-estar - além de nossa torcida por uma rápida recuperação.

Nossos agradecimentos a todas as participantes do grupo, ao barqueiro e sua família, e a São Pedro e Iemanjá.

Até a próxima trilha!

Abraços,

Cássio Garcez
Coordenador.

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