MIRANTE DA TAPERA - 10/02/2019




Como a meteorologia já havia alertado que aquele seria um domingo de sol e calor, me antecipei e marquei de madrugada o ponto de encontro, próximo à entrada da trilha, para fugirmos dos horários de muvuca e de sauna ambiental. Providencial decisão, embora muita gente certamente tenha desistido de participar por causa disso.

Como prêmio pelo esforço em acordar ainda mais cedo, este coordenador conseguiu fotografar a sequência do nascer do sol a partir da Ponta da Galheta, acidente geográfico que divide a Prainha de Piratininga do Praião.

O astro-rei despontou por detrás do Alto Mourão às 6h55 do horário de verão. Pena que os dois únicos participantes tenham perdido este espetáculo, pois chegaram alguns minutos depois apenas.

Começamos a subida da Trilha Tupinambá pelo Jardim Imbuí às 7h20. Originalmente pretendia acessar o Mirante da Tapera pelo trilha que começa ao lado do Túnel Charitas-Cafubá, também parte da Tupinambá, mas fui obrigado a mudar os planos diante das notícias repassadas pelo chefe do Parnit (Parque Natural Municipal de Niterói), na véspera, de que a trilha ali estaria bastante obstruída por galhos caídos devido às últimas chuvas. Foi o que nos salvou.

Tirando alguns poucos trechos em que tive que usar a foice (ferramenta melhor que o facão em situações de mato mais cerrado), o trecho alternativo estava bem desimpedido. Algo totalmente diferente de como era há alguns poucos anos atrás, antes da criação do Parnit (que se deu em 2014), quando pouquíssima gente andava por aquelas trilhas. Tanto que éramos nós, sozinhos, que fazíamos a manutenção dos traçados da área.

Naquela época, vestidos com calças compridas, blusas fechadas e luvas para nos protegermos do mato cerrado, às vezes demorávamos de três a quatro horas para chegar ao mesmo mirante, em média mais que o dobro e até o triplo do que se leva hoje para ir do Jardim Imbuí até este afloramento rochoso. Tudo isso devido ao árduo trabalho de reabrir os trechos engolidos pela mata, ralação de primeira...

Confirmando essas estimativas, chegamos ao nosso objetivo às 9h30, ou seja, em apenas uma hora e meia de caminhada bem contemplativa e pausada.

O mirante natural, que tem esse nome por causa de uma ruína de casa colonial que se encontra a poucos metros dali, na trilha, estava deserto, como já esperávamos. Assim, pudemos curtir com exclusividade as paisagens de tirar o fôlego. Pelo menos até a chegada de um grupo de corredores, que veio pelo Cafubá, e que parecia por isso ter brigado com um gato brabo, de tantos arranhões que os mesmos tinham em seus corpos. Mas eles ficaram bem pouco ali, nos permitindo voltar à privatividade do camarote natural.

De lá, víamos desde a Região Oceânica de Niterói e partes de Maricá, com suas serras e morros, passando por praticamente todo o litoral oceânico de Niterói e entrada da Baía de Guanabara, indo até algumas das principais montanhas, praias e serras do Rio de Janeiro.

Sem contar os pontos históricos importantes, como a Praia de Fora e o Morro Cara de Cão, onde foi fundada a cidade carioca, em 1565, as fortalezas de São João e de Santa Cruz, as ilhas da Menina, da Mãe, do Pai, Redonda, Rasa, Comprida, Cagarras, Cotunduba e Laje, o Forte Imbuí, a Ponta da Tabaíba (onde existe um forte escavado na rocha, desativado) e a Praia do Imbuí - onde existiu até 2015 a Aldeia do Imbuhy, exterminada de forma aviltante pelo Exército Brasileiro. E onde também, nesta, os restos da popa do Magdalena, o paquete inglês que se partiu em dois quando era rebocado após ter encalhado em lajes das Ilhas Tijucas, ainda repousa, submerso.

Essas e outras informações extremamente variadas eu ia repassando aos participantes, o que comprovava o quanto este local é rico não apenas em belas paisagens e em ecologia, mas especialmente em conhecimento. Coisa que muita gente deixa passar batida, achando que os únicos atrativos de uma caminhada na natureza são o exercício físico, o contato com a natureza e a beleza dos visuais - o que por si só já seriam componentes muito importantes, é preciso reconhecer.

Essa talvez seja uma das grandes diferenças entre as atividades espontâneas - feitas por conta própria pelos caminhantes - e as profissionais, como o caso do Ecoando. E que, por serem um trabalho como outro qualquer, precisam de remuneração para continuar existindo. E proporcional à qualidade do que é oferecido.

Por isso também talvez muita gente ache que o preço cobrado em grande parte das atividades do Ecoando seja caro demais, pois não leva em consideração o reduzidíssimo tamanho dos grupos, a alta qualidade do trabalho, a longa experiência, o investimento em pesquisa e estudo, e o cuidado com a segurança e o respeito à natureza, entre outras razões. Se pensar bem, o que é cobrado é até barato...

Voltando à caminhada, ficamos lá em cima pouco menos de uma hora. No retorno, ainda passamos no mirante que fica do lado oposto ao da Tapera, que oferece a visão do interior do Parnit, do Parque da Cidade e de montanhas até a Serra dos Órgãos. No local e em toda aquela parte da cumeeira, é possível observar alguns exemplares de pau-brasil nativo.

Levamos uma hora de volta ao ponto de partida, ou seja, chegamos lá embaixo às 10h30, um novo recorde para este roteiro, pelo menos no Ecoando.

Nossos parabéns à dupla de participantes, por sua disposição em acordar tão cedo para caminhar. E também nossos agradecimentos a eles, por terem assim possibilitado a realização de tão agradável atividade!

Abraços,

Cássio Garcez
Coordenador.

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