CACHOEIRAS DO VALE DA BOA VISTA - 16/03/2019
Diante do
tempo chuvoso dos dias anteriores e devido às previsões totalmente
desencontradas nos mais de sete portais de meteorologia consultados, foi uma
feliz surpresa constatar que nenhum dos participantes desistiu dessa atividade,
mesmo sabendo que era praticamente certo pegarmos chuva em algum momento da
caminhada. Um claro e grato sinal de confiança no profissionalismo do guia.
As
previsões eram tão díspares, que invariavelmente algum desses portais iria acertar
seu prognóstico. No entanto, a instabilidade era tão grande, que na realidade
todos eles acertaram! Ou seja, tivemos desde sol e céu azul, até mormaço e
tempo nublado, chuvisco e chuva de verdade. Um verdadeiro festival de condições
meteorológicas!
Começamos a
caminhar por volta das 8h30, a partir de um loteamento do bairro Boa Vista, em
Cachoeiras de Macacu. Primeiramente em estradinha de terra, depois caminho
largo e depois trilha, muitas dessas vias ocupando o antigo leito de uma linha
auxiliar da Estrada de Ferro Cantagalo (EFC), a segunda linha férrea mais
antiga do país, construída a partir de 1859 e extinta a partir de 1964.
Por esta
linha auxiliar trafegavam o que os nativos chamam de "troley", um
trenzinho automotriz que transportava os produtos cultivados ou extraídos na
Fazenda Santa Fé, como café, banana, farinha e madeira retirada das matas. Este
latifúndio de 4.300
hectares , que foi bastante produtivo até a década de
1950, acabou sendo prejudicado talvez com a extinção da EFC e falindo, anos
depois. Como muitos de seus trabalhadores moravam lá, assim como mais gente
acabou se estabelecendo no local posteriormente, conflitos fundiários começaram
a acontecer.
Esta foi a
razão da criação de um assentamento rural pelo Incra no local, em 1995, durante
o governo de Fernando Henrique Cardoso. No entanto, os 4,5 milhões de reais
destinados a desapropriar as terras, foram por água abaixo, já que, três anos
depois, em um sobrevôo naquela área, o ministro extraordinário de Política
Fundiária, Raul Jungmann, se deu conta de que lá era área de mata e com
inclinações acentuadas demais para a lavoura. Exemplo de como muitos dos
projetos governamentais, mesmo os mais bem intencionados, pecam pela falta de
planejamento e racionalidade.
Essas e
muitas outras histórias eu ia contando aos participantes, ao longo da
caminhada, enriquecendo um passeio que por si só já valia por seus visuais e
pela delícia do banho de rio.
Um pouco
mais acima, já perto da entrada das primeiras cachoeiras, observamos um fato curioso:
várias árvores da exuberante e íngreme mata que ficava do lado oposto do vale
estavam quebradas e secas, numa sequência quase linear. Primeiramente achamos
ser resultado de raios, mas depois chegamos à conclusão de que deve ter sido um
jato de vento muito forte. Algo que foi provavelmente assustador para quem assistiu
ou ouviu.
Fomos
direto para a cachoeira mais alta do conjunto de três que pretendíamos visitar,
a do Jequitibá. As outras duas eram a da Terceira Dimensão e do Tenebroso.
Alguns dos principais atrativos do Parque Estadual dos Três Picos, unidade de
conservação de proteção integral que abarca a maior parte de Cachoeiras de
Macacu, além de Silva Jardim, Nova Friburgo, Teresópolis e Guapimirim.
Chegamos
naquela por volta das 10h20. Tanto o lugar quanto a trilha estavam desertos na
vinda, certamente devido ao tempo instável. Neste mesmo instante, o sol que
vinha aparecendo de vez em quando, sumiu. Senha para entrarmos logo na água e
não nos demorarmos no banho. Foi o que fizemos e na hora certa.
Embora o
risco de cabeça d'água fosse remoto - em função das previsões de chuva fraca,
do monitoramento através do radar meteorológico e do horário mais cedo da
visita - ele não podia ser desprezado. Por isso ficamos menos de 20 minutos nos
banhos e mais um pouco ao lado do rio, lanchando, apreciando a beleza do lugar
e batendo papo.
Curiosamente,
embora eu tivesse estabelecido um horário de saída, os participantes se
anteciparam em uns 10 minutos nos preparativos para o retorno, o que foi providencial.
Quando todos estavam prontos, a chuva começou a cair!
Por causa
dessa antecipação espontânea, este guia se atrasou um pouco em seus próprios
preparativos, subindo atrás de caminhantes que se adiantaram na trilha. Por
este "acaso", consegui estar no lugar e na hora certa para evitar um
acidente.
Percebendo
que a caminhante que ia à minha frente se desequilibrou e começou a cair em
direção ao íngreme barranco da esquerda, me joguei abaixo dela, conseguindo
desta forma segurá-la e amortecer sua queda. Ufa, foi por pouco!
Na descida
de volta, a chuva ia e vinha, algumas vezes bem forte. Algo bastante
interessante, embora possa parecer coisa de maluco para muita gente. Isso
porque, não tem preço poder ver o banho de vida que a chuva traz para as matas,
além da sensação de liberdade que essa vivência traz. Coisa que talvez não seja
possível de explicar em palavras.
Por conta
dela (da chuva), não poderíamos visitar as outras cachoeiras, tanto devido aos
riscos relacionados ao volume maior de água no rio, quanto às trilhas mais
escorregadias e perigosas.
Chegamos de
volta ao Andarilho (a minivan do Ecoando), às 13h, com o sol querendo dar as
caras novamente, bem tímido. Quem pôde, já trocou de roupa ali mesmo. O
restante de nós, fizemos isso no restaurante Santa Mônica, onde almoçamos
assistindo as águas agora turvas do rio Macacu passarem ao nosso lado, de sua
varanda panorâmica.
Retornamos
para casa sem pegar chuva alguma na estrada. E felizes da vida por termos
conseguido realizar a atividade com segurança e sinergia.
Parabéns ao
grupo, pela coragem, o voto de confiança neste guia e a coesão.
Abraços,
Cássio
Garcez
Coordenador.
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