PEDRA DA TARTARUGA E PRAIA PEQUENA - 06/04/2019
Começamos a
caminhada um pouco depois das 8h, na Praia Grande de Barra de Guaratiba. O dia
estava ensolarado, mas um pouco enevoado devido aos ventos úmidos do mar.
Ainda nesta
praia, contei sobre uma das versões que afirmam que foi ali, próximo à Ponta do
Picão, o desembarque de centenas de corsários comandados por Jean François
Duclerc, na primeira tentativa de invasão da cidade do Rio de Janeiro, em 1710.
Pena que a grande quantidade de mosquitos na trilha, não tenha permitido que eu
continuasse a contar essa e outras histórias, mais tarde.
Antes de
entrar na mata, porém, passamos ao lado da casa do "Seu" Didiu,
pescador tradicional e guardião de muitas histórias locais, falecido há alguns
anos. Aproveitei para contar um dos causos que aprendi com ele, sobre o cerco
das tainhas.
Contava
Didiu que até a década de 1990, cardumes imensos vinham bater nas praias da
Barra de Guaratiba, assim como outras do litoral brasileiro, o que fazia a
festa das comunidades de pescadores tradicionais. Nos meses de janeiro e
fevereiro, elas começavam a sair da Lagoa dos Patos, no Rio Grande do Sul, seu
criatório natural, em direção ao litoral sudeste.
No período
da primeira lua minguante de maio, elas começavam a "bater" em Barra
de Guaratiba, denominadas de tapejaras, grandes e gordas. Em junho e julho,
chegavam outras, conhecidas como tainhas de corrida. Os cardumes eram tão
grandes, que os pescadores precisavam da ajuda de banhistas, que ganhavam um ou
dois peixes pelo trabalho. Onde hoje existe um quartel do Corpo de Bombeiros na
Praia Grande, ficava um pescador, o "vigia", acompanhando os cardumes
e coordenando os trabalhos de pesca - por isso o topônimo Ponta do Vigia.
Quem
presenciou essa faina, invariavelmente se refere a ela como
"espetáculo", "coisa linda" e outras expressões de
encantamento.
Segundo
Didiu, esses cardumes rodavam os mares e retornavam apenas em agosto, onde
apareciam as tainhas "ribadas", magras e cabeçudas - mas que ainda
assim faziam a festa dos pescadores. Tanto que a cultura e a própria economia
de muitas cidades costeiras do sul e sudeste do Brasil eram alimentadas por esse
ciclo pesqueiro, que foi praticamente interrompido com o incremento da pesca
industrial justamente na saída da Lagoa dos Patos.
Entramos na
trilha às 8h30, que estava, como já falei, infestada de mosquitos e ainda úmida
das chuvas que vinham caindo com frequência. Daí, não conseguíamos ficar
parados por muito tempo para descansar ou conversar sobre a rica história
local.
Mesmo
assim, levamos algo em torno de duas horas para chegar à Praia Pequena, ritmo
mais lento devido às diversas erosões que obrigaram o grupo a caminhar mais
lentamente.
Nesta
primeira parada ficaram algumas participantes, que preferiram o banho de mar à
subida da Pedra da Tartaruga.
Felizmente
havia muitas nuvens e o vento sudoeste para arrefecer essa ascensão, que
geralmente é bem calorenta. Também havia grandes voçorocas (erosões), que
exigiram mais atenção e cuidado dos caminhantes. O grupo dos optantes por esta
subida, chegou lá em cima por volta das 10h40.
Ficamos em
torno de meia hora apreciando as belas paisagens e conversando sobre a
geografia litorânea da Zona Oeste Carioca.
Depois da
descida, do grupo reunido e de alguns mergulhos nas calmas águas da praia que
também é curiosamente chamada de "Perigoso", começamos os
preparativos para o retorno, que começou pouco depois do meio-dia.
Na primeira
parada para descanso - felizmente com menos mosquitos dessa vez - contei ao
grupo a história da relação entre a Segunda Guerra Mundial e o circuito
gastronômico das "tias". (Mas que não vou repetir aqui para atiçar a
curiosidade e a vontade de quem quiser conhecer este roteiro conosco. E também
para não dar de bandeja aos concorrentes uma informação pesquisada com muito
esforço).
Chegamos ao
final da trilha pouco depois das 13h, perfazendo metade do tempo gasto na ida.
Será que o grupo ficara mais animado com a promessa de uma cervejinha no
encerramento da caminhada ou foi mesmo o medo dos mosquitos que pôs sebo nas
canelas desse pessoal?
A bordo de
nossos carros, fomos em direção a um restaurante que costumávamos apreciar muito,
mas que estava inaugurando nova direção, cujo trabalho não se comparava à
anterior... Mesmo assim o pessoal gostou da esticada, especialmente do ponto de
gelo das cervejas.
E assim fomos
para casa mais tarde que o planejado (já que a atividade do dia seguinte estava
cancelada por falta de quórum) e satisfeitos pelo belo passeio e as boas
companhias.
Até a
próxima trilha!
Abraços,
Cássio
Garcez
Coordenador.
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