PEDRA DO BOQUEIRÃO - 10/03/2019
Iniciamos a
caminhada por volta das 7h, depois de deixarmos os carros num loteamento antes
da entrada da trilha. O dia estava com muitas nuvens, o que proporcionou
cenários que mais pareciam um quadro vivo.
Assim como no
roteiro da véspera, a procura por este foi bem pequena, certamente pelo horário
mais cedo e pelo fato de ser domingão pós-carnaval, quando muita gente ainda
estava viajando ou envolvida com a folia. Problema algum, pois para nós, no
Ecoando, o que importa é a qualidade e não a quantidade.
Antes de
subir a trilha principal, visitamos um afloramento rochoso às margens da antiga
ciclovia, esta que estrangulou várias enseadas lagunares, diminuindo assim o
espelho d'água e decretando a morte desses anexos e de sua biodiversidade.
Dali era
possível observar grande parte do que era chamado em décadas passadas por
moradores e limnólogos (especialistas em águas interiores) de Pirapetinga, ou
seja, a porção leste da Lagoa de Piratininga.
A praia que
existia ali, a poucos metros de onde estávamos, se chamava Tia Chica, à época
em que suas águas eram cristalinas, límpidas e piscosas. Hoje, com a poluição e
tantas e tão desastrosas intervenções (como as dragagens realizadas há poucos
anos), as mesmas são mal-cheirosas e com muito menos vida do que já houve e
poderia haver ali. Mesmo assim, ainda são de grande importância para a avifauna
e os pescadores que ainda insistem em retirar parte de seu sustento da lagoa.
As matas do
lugar, que fazem parte do Parque Natural Municipal de Niterói - Parnit, estavam
bem viçosas devido às chuvas que vinham caindo com mais frequência nas últimas
semanas. E a trilha, por isso, estava mais fresca e surpreendentemente com
poucos mosquitos. Por outro lado, seu acesso estava bem fechado, devido à queda
de um grande galho de árvore.
Chegamos ao
topo da Pedra do Boqueirão - que, antes de descobrirmos um estudo de meados do
século 20 com este topônimo, era por nós chamada de Platô da Lagoa - às 7h30. O
lugar estava deserto, assim como a trilha da ida e da volta, verdadeiro
privilégio em tempos de massificação de visitas ao ambiente natural.
Ficamos por
aproximadamente uma hora aí, curtindo as vistas, conversando criticamente sobre
a história da região, sua geografia, a importância ecológica do lugar e alguns
de seus problemas.
A esse
respeito, na parte oeste da lagoa - chamada justamente de Boqueirão em décadas
passadas devido a seu estreitamento entre a pedra onde estávamos e a Ponta
Comprida -, era possível ver o que sobrou da outrora biodiversa e simpática
ilhota lagunar que foi devastada pelas obras de dragagem feitas pelo Governo do
Estado, logo após a construção do túnel de ligação com o mar entre 2005 e 2008.
Assim, o
que foi planejado para melhorar a qualidade das águas da Lagoa de Piratininga,
acabou agravando a poluição da Lagoa de Itaipu e de sua praia, através do fluxo
que passou a carregar os poluentes de uma para outra pelo Canal de Camboatá.
Prova de
que tão somente obras de engenharia não são suficientes para dar conta da
complexidade de sistemas naturais, como o das lagoas de Piratininga e Itaipu.
Talvez se as autoridades tivessem contratado uma equipe formada por limnólogos,
biólogos, arqueólogos, engenheiros químicos e outros profissionais multidisciplinares
ou preferencialmente interdisciplinares, esta poderia ter sido a diferença
entre o fracasso e o sucesso dessas intervenções, além da economia de tempo,
recursos e paciência.
Agora é
esperar que o poder público municipal, que ficou responsável pela gestão da
Lagoa de Piratininga através de um convênio com o Governo do Estado, consiga
consertar as besteiras realizadas por este próprio antecessor. E restaurar
aquilo que seja possível.
Descemos em
meia hora a trilha, chegando aos carros às 9h. Ou seja, tão cedo quanto na
caminhada da véspera e oferecendo ainda o dia inteiro pela frente para
aproveitar.
Até a
próxima trilha!
Abraços,
Cássio
Garcez
Coordenador.
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