PEDRINHA DO MACACO - 09/03/2019




Principalmente por ser o sábado imediatamente posterior ao carnaval e por isso ainda sujeito aos reflexos desse feriadão (como trânsito intenso nas estradas e superlotação nas trilhas), e também devido ao calorão de verão, resolvi marcar este roteiro ainda mais cedo que o costume. Também entrou nesta conta o fato de, na última vez em que estivemos lá, em 2016, termos enfrentado verdadeiros engarrafamentos de gente na trilha, na ida e na volta.

Ou seja, por estas e outras às 6h já estávamos em São José de Imbassaí, Maricá, bairro onde se inicia a trilha ao final de uma rua de loteamento.

Talvez por ser tão cedo e pelo fato de muita gente estar viajando ou envolvida com a folia, apenas dois participantes apareceram, o que até era uma vantagem para um percurso tão inclinado e exposto à altura como aquele.

O dia estava ensolarado e quente desde cedo, além de muito úmido. A mata estava viçosa por causa das chuvas que vinham caindo direitinho nas últimas semanas e também o capim colonião que domina praticamente toda a cumeeira da Serra do Macaco, Refúgio de Vida Silvestre de Maricá, onde se situa nosso objetivo.

Chegamos à linha de cumeada poucos antes das 7h, nos acomodando na ampla sombra da Pedrinha do Macaco 10 minutos depois.

Lá ficamos até às 8h, apreciando de camarote a beleza das vistas do litoral de Maricá e de outros componentes da paisagem. Dali podíamos ver as Ilhas Maricás praticamente de frente, a ameaçada restinga da APA de Maricá e suas comunidades de pescadores tradicionais, a Ponta Negra e as pedras de Inoã e do Elefante - a primeira um monumento natural e a segunda o ponto culminante do Parque Estadual da Serra da Tiririca e de Niterói.

Também víamos praticamente todas as lagoas do complexo lagunar maricaense, incluindo a quase extinta Lagoa Brava, localizada ao lado de enormes cavas de areia e areola, escandalosamente autorizadas pelo Departamento Nacional de Pesquisa Mineral, as quais vem contribuindo de forma leviana e decisiva não apenas para a destruição daquele corpo d'água, mas também no risco de alagamentos de casas em loteamentos próximos.

Estas e outras informações interdisciplinares ou multidisciplinares eu ia repassando aos participantes, algo que agrega valor ao passeio e pode despertar ainda mais interesse nesses em se aprofundar no conhecimento e na defesa dos lugares abordados.

Descemos a trilha em meia hora, chegando ao ponto de partida às 8h30. Na hora certa, já que lá estava um grupo de mais de 20 pessoas se preparando para subir. Diante dessa visão e da lembrança da última vez em que estivéramos lá, ficamos ainda mais aliviados e satisfeitos com a decisão de ter começado bem mais cedo a caminhada.

Como havia tempo de sobra com os adiantamentos do horário, levei a dupla para conhecer a centenária Igreja de São José de Imbassaí, às margens da Lagoa de Araçatiba, do outro lado da rodovia. Embora não seja muito conhecida, ela tem uma importância ímpar para a história de Maricá, pois ao seu redor surgiu o primeiro núcleo populacional deste município, ainda no século 17.

Construída em data incerta, embora indicada como 1675 em seu frontispício, a Igreja de São José de Imbassaí ainda mantém muito de sua bela arquitetura colonial, embora puxadinhos recentes e um tanto de falta de cuidado e de sensibilidade das autoridades eclesiásticas com esse patrimônio histórico estejam descaracterizando-o perigosamente.

Outro atrativo que parece não estar sendo bem cuidado, são as vistas que se poderia ter de sua entrada em direção à lagoa de Araçatiba e à APA. As mesmas estão bloqueadas por mato, que cresce a partir de terreno que se localiza abaixo da igreja. Uma pena esse descaso, ainda mais em se tratando de um patrimônio tão importante para a identidade da cidade.

Antes de voltarmos para casa, ainda passamos pela orla recentemente urbanizada da lagoa, ali pertinho. Embora seja possível observar uma certa boa vontade da prefeitura em atender aos anseios de moradores no que se refere a embelezamento urbano, asfaltamento e instalação de equipamentos de lazer, chama a atenção o desrespeito dessas intervenções para com o meio ambiente.

Exemplo disso foi a colocação de pedras onde era a praia lagunar, como provável tentativa de deter a ação erosiva das marolas produzidas pelo vento sudoeste sobre os equipamentos urbanos. Assim, além dessa intervenção ter descaracterizado as feições originais do lugar, ela também dificultou o acesso à lagoa e ao banho naquela área. Desrespeito ambiental este que vem se repetindo em outros locais neste município, como na Lagoa do São Bento, no Barroco, que foi quase totalmente arrasada por máquinas da prefeitura sem qualquer estudo ou embasamento técnico.

Esperamos que o prefeito, seus assessores, secretários e vereadores maricaenses tenham mais sensibilidade ambiental na hora de planejar e executar obras de engenharia na cidade. Assim como não se esqueçam que, sendo o turismo e o ecoturismo algumas das principais vocações econômicas de Maricá, os mesmos passem a tratar de seu meio ambiente de forma mais zelosa e respeitosa.

Fica a dica.

Abraços,

Cássio Garcez
Coordenador

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