CIRCUITO PONTA DA FERRADURINHA - 20/04/2019 (adiado do dia 13)
Adiado de
sua data original devido tanto ao dilúvio que havia caído há poucos dias de sua
realização (e que causou grandes estragos no Rio, em Niterói e em outros
municípios fluminenses), quanto por causa das pelotas de óleo bruto vazadas de
recente acidente em plataforma de petróleo da Petrobras que vinham dando às
praias da Costa do Sol, felizmente nesta nova oportunidade - em pleno feriadão
de Semana Santa - conseguimos inaugurar o belíssimo circuito. E com uma grata
novidade: a presença do geógrafo Marcus Cambra, da UFRJ, que enriqueceu as
informações sobre a geologia da região.
Depois de
umas duas horas de viagem, paramos no centro de informações turísticas de
Búzios, onde há uma placa do Caminhos Geológicos, para que Marcus fizesse sua
primeira explanação sobre a dinâmica da formação geológica das rochas e das
baixadas do município.
Começamos a
caminhada um pouco depois, por volta das 9h, num dos estacionamentos próximos à
Praia de Geribá, onde deixamos o Andarilho (a minivan do Ecoando). A partir
dali, subimos o labirinto de ruas de paralelepípedos até a entrada da trilha,
esta que ocupa área que escapou por pouco de virar um megacondomínio. E que
agora, felizmente, está protegida em sua integridade ambiental pelo Parque
Estadual da Costa do Sol (PECS).
Visitamos
primeiramente o alto da Ponta da Ferradurinha, acidente geográfico que divide
as praias da Ferradura e Ferradurinha. Lá de cima, visualizávamos desde as
ilhas do setor APA do Pau-brasil e a própria Ilha de Cabo Frio, passando pelas
praias das Conchas, Peró, Tucuns e Geribá, até as da Baía Formosa e Manguinhos,
a Ponta do Pai Vitório, a Ilha Feia e as montanhas da Serra do Mar ao fundo.
Tal visão
tão abrangente se devia unicamente à vegetação típica desta região, atarracada
e agreste, e que embora esteja dentro do bioma Mata Atlântica é classificada
por alguns autores (como Ab' Saber), como um "enclave extrassertanejo de
caatingas". Ou seja, uma mata seca, arbustiva e adaptada às condições
adversas de vento forte, alta salinidade e baixa pluviosidade, características
que contrastam com as florestas úmidas da Serra do Mar e baixadas mais próximas
dela.
Estas e
muitas outras informações multidisciplinares ou interdisciplinares, pesquisadas
em trabalhos acadêmicos, eu e Marcus íamos repassando aos participantes,
tornando ainda mais rico um passeio que por si só já valeria apenas pelas
extraordinárias paisagens.
Prosseguindo
em nosso percurso circular anti-horário, agora era hora de descermos ao lado
dos promontórios de rochas diversificadas até as piscinas naturais que se
formam entre as pedras, a beira mar.
Por sorte,
uma ressaca que havia começado há alguns dias e terminado talvez na véspera,
deixou as piscinas naturais - conhecidas pelos locais com a denominação (nada
condizente com a sua beleza) de "poças" - com suas águas renovadas e
cristalinas. Fora isso, a temperatura era ideal, nem fria e nem quente.
No local
também havia bastante sombra, projetada pelo belo promontório em formato de
"L", onde há uma gruta. Verdadeiro parque de diversões para geólogos
e amantes da geologia.
Mesmo
havendo segurança suficiente - pois o mar não estava bravo e a maré era baixa
de lua cheia (ou seja, quando são atingidos seus níveis mais baixos) - o pessoal
parecia meio cabreiro para entrar na água. Daí, coube a mim, o guia, quebrar
esse gelo e inaugurar um dos maiores atrativos desta caminhada: o banho naquela
piscina natural privativa e de belíssimas vistas do mar.
Ainda
demorou um pouco para todos se animarem, mas quando isso aconteceu, foi difícil
sair dali para continuar a caminhada.
Durante
todo o tempo que estivemos lá, na Enseada das Piscinas, apenas um casal
apareceu. Considerando ser um feriadão e a cidade de Búzios estar lotada, esse
era um sinal de que tal atrativo é ainda pouco conhecido. Até quando, não se
sabe.
Ali também
aprendemos na prática o quanto nossos prosaicos e preventivos hábitos de
utilizar repelentes e filtros solares corporais podem ser nocivos ao meio
ambiente: sobre a água que acabávamos de sair, era possível ver uma finíssima
camada oleosa que não havia antes de entrarmos. E isso resultado de um grupo
pequeno, em alguns minutos de imersão apenas. Imagine-se milhares, milhões de
pessoas deixando seus resíduos de filtros nas praias, em rios, lagoas e outros
corpos d'água? Não é à toa que há registros de corais morrendo por causa dessa
"pequena" mas exponencial poluição. Por essa razão, de agora em
diante pretendo não usar qualquer desses produtos antes de cair na água.
Prosseguimos
agora em direção à Pedra do Guardião, caminhando pelo sobe e desce de trilhas
agrestes e igualmente pouco frequentadas. Lá, nos refugiamos embaixo de um
abrigo de rocha, onde Marcus contou mais um pouco sobre a odisséia da formação
geológica desse lugar, que também é conhecido como Himalaia Brasileiro. Mas nos
demoramos tempo suficiente apenas para descansar, nos hidratar e ouvir as
informações de nosso parceiro.
Nosso
próximo objetivo seria a Enseada das Tartarugas ou do Cálice, onde apenas
paramos para apreciar a beleza das águas plácidas, azuladas e claras. Queríamos
chegar logo à Praia da Ferradura para nos refrescar nesta bela mas invadida
enseada.
Com a sua
orla tomada por barracas de praia de bares, além de totalmente cercada por casas
e muros, a Praia da Ferradura é um dos tristes exemplos de como o crescimento
urbano local privilegiou a apropriação privada da paisagem em detrimento do
interesse coletivo. Coisa que é também evidente em Manguinhos, Geribá e na Rasa,
entre outros bairros buzianos, onde casas e muros tampam praias e restringem
seus acessos a pequenas e raras servidões.
Esta talvez
seja também uma das heranças mais malditas da época em que Búzios fez parte de Cabo
Frio, até 1995,quando vereadores e prefeitos desse município talvez encarassem este
distrito mais distante como uma espécie de balcão de negociatas. Algo que
continuou a acontecer também depois da emancipação, neste mesmo ano,
ressalte-se, desta vez com prefeitos e vereadores do novo município.
Felizmente
em nossa caminhada, achamos um canto de natureza mais próxima da original e bem
menos frequentada, justamente aquele que foi protegido pelo PECS, perto da
saída da trilha. Ali tomamos um delicioso banho de mar, embora um pouco
destoante no que se refere à paz, ao silêncio e à beleza dos lugares que
havíamos deixado há pouco. Mesmo assim, ficamos algo em torno de uma hora ali.
Como muito
participante já estava sem água para beber, paramos numa pousada próxima para
comprar o precioso (e caro) líquido, neste que é o único estabelecimento onde o
encontramos para vender naquele canto da Ferradura.
Retornamos
por outra trilha, mais larga e com menos inclinações, até a Praia dos Amores,
sequência de pequenas praias encaixadas em rochas na enseada da Ferradurinha.
Como já era final de tarde e havia muita gente barulhenta no local, paramos
apenas para um mergulho, retornando ao Andarilho logo a seguir. Um pouquinho
antes de chegar lá, vimos um belíssimo pôr do sol.
E também antes
de pegarmos a estrada, paramos numa loja de conveniência para comer e beber
alguma coisa, além de trocar de roupa para viajarmos mais confortáveis.
Demoramos
um pouco mais que o normal para retornar para casa, por termos precisado vir
pela mal conservada Rodovia Amaral Peixoto. Isso porque, precisávamos passar
por Várzea das Moças para deixar um participante que morava nesse bairro.
Eram 22h
quando deixei o último passageiro, em Icaraí. Embora cansativa essa viagem de
volta, chegamos todos sãos, salvos e felizes em casa, como deve ser.
Até a
próxima trilha!
Abraços,
Cássio
Garcez
Coordenador
Foto: grupo na piscina natural. Cássio Garcez
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