TRAVESSIA VALE DA REVOLTA-PRATA DOS AREDES - 27/04/2019




O dia estava ensolarado, mas bem ventoso, certamente devido à aproximação de uma frente fria que não teve tempo de atrapalhar nossa caminhada.

Porém, o que quase atrapalhou mesmo esta viagem de um dia, foi a passagem ao lado de um tiroteio, em frente à REDUC e do outro lado da pista. Algo que jamais havíamos passado em toda a história do Ecoando e em minha vida. Mas que, felizmente, foi apenas um susto. E também um lembrete de que, por mais atentos e prevenidos que sejamos, todos estamos sujeitos a esses riscos.

Começamos a caminhada às 8h30, deixando o Andarilho (a minivan do Ecoando) estacionado entre as duas araucárias da entrada da subsede Vale da Revolta, no Parque Estadual dos Três Picos (PETP) - local tão recuado em função das grandes obras que estão sendo realizadas em sua área.

Passamos por máquinas, trabalhadores e canteiros de obras até finalmente entrarmos na trilha, que estava bem úmida e mais fresca que as estradinhas do início da caminhada. Antes disso, porém, visitamos o Caminho das Águas, uma simpática trilha interpretativa que segue ao lado de um córrego de águas cristalinas.

Levamos aproximadamente uma hora e meia até o Alto da Boa Vista, o cume de uma das mais altas elevações que bordejam a serra sobre as baixadas do entorno da Baía de Guanabara naquele quadrante. E que tem de longe a melhor vista das paisagens desse roteiro.

Tanto que lá de cima víamos o Caledônia de Nova Friburgo, o Pico do Faraó de Silva Jardim, o Morro Azul de Rio Bonito, a Serra do Mato Grosso de Saquarema, o Alto do Guyá de São Gonçalo, as pedras de Inoã, Itaocaia e do Elefante, em Maricá, e várias montanhas cariocas, como o Pão de Açúcar, o Corcovado e o Pico da Tijuca, só para citar algumas.

Também ali pertinho, víamos todos os picos mais famosos do Parque Nacional da Serra dos Órgãos: Dedo de Deus, Dedo de Nossa Senhora, Cabeça de Peixe, Escalavrado, Santo Antônio, São João, São Pedro, Verruga do Frade, Pedra da Cruz, Garrafão, Sino e Papudo. A Pedra do Elefante de Teresópolis estava quase ao alcance da mão.

Por outro lado, não conseguimos ver os Três Picos e outras pedras notáveis da região de Salinas, encobertos o tempo todo em que estivemos neste mirante natural.

Lá embaixo, descortinava-se a Baía de Guanabara, com seus manguezais protetores da APA de Guapi-Mirim (é assim que se escreve mesmo), suas ilhas (como Paquetá e do Governador) e a Ponte Rio-Niterói. E também as baixadas de Guapimirim, Magé, Cachoeiras de Macacu, Itaboraí e São Gonçalo.

Por conta dessa riqueza de visuais e de temas para estudo - como geologia, geografia, pré-história e história -, fiquei durante um bom tempo explanando para os participantes. Como sobre o soerguimento dessas montanhas, a formação da Baía de Guanabara, a história da conquista do Dedo de Deus e muito mais.

Quando lanchávamos, o grupo que toda hora passava por nós ou nós por eles (devido aos ritmos diferentes) na subida, chegou. Mas eram pessoas legais, respeitosas e tranquilas, o que garantiu a paz que já usufruíamos lá em cima. E mais ninguém apareceu durante toda a caminhada.

Partimos do Alto da Boa Vista por volta das 11h30, retornando pelo belo caminho forrado com matéria orgânica e em muitos locais suspenso pela rede de raízes, dando a parecer serem totalmente ocos. Também descobrimos muitas orquídeas, vermelhíssimas, típicas daquelas altitudes. E que felizmente parecem estar sendo deixadas onde devem: em seus próprios ambientes.

No sobe e desce da Trilha Dominguinhos - a que leva até o posto avançado do Jacarandá, do PEPT, não visitamos o mirante de mesmo nome por suas altas inclinações e vistas menos espetaculares que as do Alto da Boa Vista. Isso nos pouparia tempo e esforços posteriores.

Chegamos ao Jacarandá, por volta das 13h. Como devia ser hora do almoço do guarda-parque, encontramos o posto fechado, embora desse para ouvir gente lá dentro.

Ainda andamos algum tempo pela estrada de terra para visitar um recanto que nunca chegava e que, por isso mesmo, me motivou a abortá-lo para voltarmos o quanto antes à trilha da travessia.

Nesta, também muito agradável e quase plana, levamos algo em torno de 40 minutos até sairmos na estradinha de Prata dos Aredes. No entanto, ainda demoraríamos mais meia hora até chegarmos ao centrinho urbano deste bairro ao mesmo tempo tão próximo e tão distante do Centro de Teresópolis.

Nosso objetivo agora era nos reabastecer com os comes e bebes do Empório da Roça, simpático restaurante gerenciado pela Mariana e sua família. Alguns de nós comemos o bem servido prato feito, outros, pastéis, e outros ficaram só na cervejinha, bem gelada.

Mariana também foi a salvação na complexa logística de resgate do Andarilho, através da ponte de comunicação com um tio seu, que trabalha com transporte, já que o Uber não oferecia carro algum naquela área. Se não fosse por isso, eu teria que ter pego um ônibus que dava volta infinitas e que demoraria uma eternidade, além baldear com um Uber. Nesta hipótese, eu provavelmente teria chegado à subsede depois do fechamento de seu portão, onde o Andarilho ficaria preso e eu teria que me virar para arranjar outro transporte para voltarmos para casa.

Por isso, nem me importei de esperar por uma hora a chegada do motorista salvador da pátria, que foi de um profissionalismo impecável.

Assim, enquanto o pessoal aguardava na segurança e hospitalidade do Empório da Roça, eu e o tio da Mariana íamos buscar o Andarilho. Eram 17h30 quando chegamos ao Vale da Revolta, um pouco depois do fechamento oficial do Parque. Mas que, felizmente, os portões seriam trancados apenas às 19h, segundo informações do guarda-parque que nos recebeu, no início.

Por volta das 18h15, eu chegava de volta ao Empório da Roça pela tortuosa e estreita estradinha, já no breu da noite. Hora de fechar contas, reunir apetrechos espalhados pelo restaurante todo (sinal de que o pessoal deve ter relaxado bem e se sentido em casa...) e reembarcar.

Agradecemos à Mariana seu carinho e cuidado, nos despedimos e botamos o pé na estrada às 19h. Mesmo pegando trechos de trânsito pesado na descida da serra e voltando pela Washington Luís, chegamos rápido e em segurança em casa - por volta das 21h. E, desta vez, sem tiroteio algum, como sempre deveria ser.

Até a próxima trilha.

Abraços,

Cássio Garcez
Coordenador

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