TÚNEL FERROVIÁRIO DA SERRA DA TIRIRICA - 02/06/2019
Embora as
previsões do tempo fossem de chuva neste dia, o sol apareceu entre nuvens desde
cedo, nos animando. Daí não tivemos dúvida em confirmar esta atividade que
denominamos como ecossolidária (ou seja, aquela que se caracteriza por seu viés
filantrópico, além do ecológico). No entanto, a meteorologia acabou acertando
em suas previsões, como veríamos um pouco mais tarde...
Iniciamos a
caminhada às 8h15, subindo por ruas do loteamento que aproveitou um trecho da
antiga Estrada de Ferro Maricá (EFM) para seu arruamento mais alto, bem próximo
ao único túnel dessa ferrovia, o qual alcançamos meia hora depois.
O túnel, que
foi construído em 1889 e é o grande atrativo do roteiro que empresta seu nome,
estava relativamente limpo e com pouca vegetação, pelo menos alguns metros
antes e depois dele. Tudo graças ao trabalho de roçada e capina que o pessoal
do Parque Estadual da Serra da Tiririca havia feito ali há poucos dias. Nossos
agradecimentos a eles, pois!
No entanto,
mesmo preparados para encarar o restante do percurso em mato fechado, com o
intuito de alcançar um mirante há aproximadamente 200 metros dali, tivemos
que desistir em função da massa impenetrável de capim-colonião que não havia
sido retirada pelos guardas-parque. Assim, retornamos dali mesmo.
Aproveitei para
repassar com mais detalhes ao grupo a rica história desta ferrovia que ligou
São Gonçalo a Cabo Frio, especialmente sobre o trecho que era conhecido pelos
ferroviários como o "calcanhar de Aquiles" da EFM - justamente aquele
onde estávamos. Isso ajudou a diminuir um pouco a frustração ocasionada pelo
bloqueio de mato.
O
participante Bruno Senna contribuiu de forma decisiva na complementação dessas
e de outras informações repassadas pelo guia, pois além de neto de funcionário
da Estrada de Ferro Maricá, o mesmo era um entusiasta e pesquisador autodidata
de sua história.
Desta
maneira, a parceria inesperada e muito bem-vinda não apenas corroborou as informações
repassadas pelo guia ao grupo, mas também enriqueceu o passeio com outros dados
e "causos" aprendidos diretamente de quem vivenciou durante décadas
parte importante da história da ferrovia.
No teto do
túnel, ainda podíamos ver impressa a fuligem das marias-fumaça, mesmo a última
tendo passado por lá há quase 60 anos. E no chão, achamos carvões minerais, que
eram usados para alimentar as fornalhas das locomotivas, alguns virgens e
outros já utilizados. Relíquias que estão se tornando mais raras, devido ao
nocivo hábito de alguns visitantes em levar "lembrancinhas".
Mas
voltando ao "calcanhar de Aquiles" da estrada de ferro, que começava
justamente após o túnel, no sentido São Gonçalo, eu e Bruno explicamos a razão
dessa curiosa designação.
Consta que
esse era o trecho mais inclinado da EFM, onde as locomotivas a vapor precisavam
pegar embalo para vencer a Garganta do Calaboca. Como algumas não conseguiam na
primeira tentativa, o jeito era retornar até a saudosa estação do Calaboca
(criminosamente demolida em 2015, veja mais em: https://oglobo.globo.com/rio/bairros/pf-investiga-crime-contra-meio-ambiente-apos-antiga-estacao-de-trem-ser-demolida-em-area-de-protecao-15930228),
colocar pressão nas caldeiras e aí sim, a todo o vapor, subir a rampa.
Ainda
assim, algumas composições ficavam no meio do caminho, tendo o maquinista então
que optar por uma solução um pouco mais trabalhosa e demorada: retornar à mesma
estação, deixar metade dos vagões, subir com a outra metade e depois retornar
para buscar aquela.
Além dessa
pitoresca história, contamos outras, como o sequestro do último trem do trecho
entre Cabo Frio e Virajaba (Rio do Ouro) por moradores que não queriam que a
ferrovia acabasse; o afundamento de um navio que transportava locomotivas da
Maricá por um U-boat (submarino
nazista), durante a Segunda Guerra Mundial; as sabotagens políticas e
econômicas que decretaram a ruína da EFM e de outras ferrovias; e a importância
que a mesma teve para o desenvolvimento econômico, cultural e social de todos
os municípios atendidos pela EFM.
Depois, já
no trajeto pela rua que agora ocupa o antigo leito ferroviário, íamos
identificando obras de engenharia que felizmente foram preservadas - como uma
ponte, cortes no terreno e o traçado retilíneo por onde corriam os trilhos.
Quando nos
dirigíamos ao local onde veríamos de longe apenas a área onde ficava a estação,
a chuva começou a cair. Primeiro alguns pingos isolados, depois um temporal.
Tivemos que
correr para baixo de um telheiro, na vã esperança de que a chuvarada iria
passar logo. Constatada a impossibilidade de continuarmos sem nos encharcarmos
(muita gente não havia levado capa de chuva ou guarda-chuva, como havia
recomendado o guia), deixei o pessoal ali abrigado e fui buscar o Andarilho (a
minivan do Ecoando), para resgatar a todos.
Assim,
terminamos o passeio antes da hora e a bordo do Andarilho. Mas felizes por
termos vivenciado e compartilhado o que era de mais importante neste roteiro:
sua relevância histórica e a importância em se preservar a todo custo o que
ainda restou da EFM.
Veja as
fotos desse passeio, em: https://www.ecoando.eco.br/galeria-de-fotos/
ou https://www.facebook.com/pg/ecoando.caminhadas/photos/?ref=page_internal.
Até a
próxima trilha!
Abraços,
Cássio
Garcez
Coordenador
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