CIRCUITO TUCUNS-EMERÊNCIAS-GRUTA - 27/07/2019
Iniciamos a
caminhada às 9h e pouco, na servidão que leva à trilha que liga os bairros de
Tucuns e São José através da Serra das Emerências.
O dia
estava ensolarado, fresco e curiosamente úmido, indicando que as chuvas vêm
caindo com uma frequência maior do que o normal nesta região - ainda mais pelo
fato desta ser teoricamente a época de estiagem e onde menos chove no Estado.
Chegando à
cumeeira da Serra, daí a poucos minutos, continuamos na direção sudeste em uma
estradinha que corta a mata que muito se assemelha às de caatinga, com a maior
ocorrência de árvores de pau-brasil no estado e muitas outras espécies vegetais
e animais raras, endêmicas ou em risco de extinção (como o mico-leão-dourado, o
formigueiro-do-litoral e o cactos cabeça-de-velho) . O dossel era tão
consistente, que raras vezes recebíamos os raios de sol.
Aproveitei
as paradas para contemplação e descanso, para compartilhar informações sobre a
leguminosa que inspirou a criação da APA do Pau-brasil, ali, em 2002, e os
conflitos pela sua exploração no primeiro século da colonização, entre
portugueses, tamoios e franceses. Essas e outras informações eu ia repassando
ao grupo, ao longo do trajeto.
Levamos
aproximadamente uma hora até o primeiro mirante, que descortinava amplas vistas
das praias, ilhas e áreas continentais da APA do Pau-brasil, de municípios
próximos (como Cabo Frio e São Pedro da Aldeia) e de elevações mais distantes,
como os Três Picos, o Caledônia e o Frade de Macaé. Local para mais histórias e
repasse de informações multi ou interdisciplinares - como geografia, geologia,
zoologia e cultura.
Mais alguns
minutos e chegávamos à rampa de voo livre das Emerências, que estava vazia (mas
que logo recebeu outros grupos, embora pouca gente). Lá ficamos apreciando as
belas vistas do oceano, da península da Búzios e das matas secas que
caracterizam a região, que é considerada uma das 14 áreas de alta diversidade
no país.
Também
lanchamos no local, que estava com o mítico vento nordeste a toda força e
algumas nuvens que faziam sombra de vez em quando. Por isso, alguns de nós
tivemos que vestir o abrigo corta-vento, pois a sensação térmica foi lá
embaixo.
Depois de
ficarmos aproximadamente uma hora curtindo aqueles visuais de tirar o fôlego e
de repassar histórias sobre as origens da Armação dos Búzios (ligadas a
piratas, pescadores, armadores de baleias e aventureiros ricos), começamos a
descida da trilha para a Praia de Tucuns, onde pegaríamos o caminho de
pescadores que nos levaria à enseada secreta e à sua grutinha.
Felizmente
havia poucos mosquitos neste trecho, ao contrário das outras vezes em que
estivemos lá. Mas a trilha estava bem fechada, indicando que vem sendo pouco
utilizada. Tanto que, na vinda, passamos por uns três ou quatro grupos de
caminhantes ou ciclistas, que parecem ter ido e voltado pelo mesmo caminho, o
da estradinha, evitando assim o trecho onde estávamos agora.
Desta
forma, tive que ir reabrindo os pedaços mais cerrados, mas procurando deixar outros
sem mexer, para manter essa característica mais "selvagem" do
percurso. E também imprimir um pouco de aventura à caminhada, por que não?
Passado o
trecho da mata mais cerrada, era hora de curtir os visuais do canto mais
preservado da Praia de Tucuns emoldurado pelos cactos "pilosocereus"
(o cabeça-de-velho), interessante cactácea colunar endêmica da região que forma
comunidades densas e extremamente belas naquelas encostas. A impressão era de
que estávamos caminhando em algum recanto do sertão nordestino, apesar da visão
do mar.
Na
bifurcação, pegamos a trilha que nos levaria até a ponta das Emerências, onde
chegamos por volta das 13h.
Nesse
trecho, sentimos bastante calor, devido ao bloqueio do vento pela vegetação
mais alta e algumas barreiras geológicas. Caso as condições do mar estivessem
propícias, um mergulho seria muito bem-vindo na enseada ao lado. Mas, por conta
da agitação das ondas e da alta turbidez da água em razão do vento nordeste,
não tivemos como cumprir esse planejamento. Mas não por falta de vontade, pois
levávamos sapatilhas, bóias infláveis e até máscara e snorkel em algumas de
nossas mochilas. Teremos que tentar em uma próxima vez.
Tiramos
algumas fotos na Ponta das Emerências, procuramos baleias (sem sucesso, apesar
de ser alta temporada de avistagem) e averiguamos como estava a trilha para a
enseada. Embora esta estivesse bem fechada, era possível de ser vencida com
algum cuidado e disposição. E, como o grupo era guerreiro, todos toparam o
desafio. Daí, chegávamos a este objetivo final da caminhada às 13h30, visitando
com cuidado a gruta (que na realidade é um abrigo de rocha) e a pequena enseada
de pedras.
Ficamos neste
local durante 40 minutos, explorando os recantos, apreciando as belas paisagens,
lanchando ou simplesmente relaxando. Não encontramos viva alma desde a descida
da rampa de voo livre até o retorno à Praia de Tucuns, onde chegamos por volta
das 15h. A praia só não estava deserta devido a um casal de namorados em um
caminhão Ford antigo e a um grupinho no meio da praia, este num acampamento
improvisado numa picape banhada pela maresia.
Caminhamos
pelas trilhas usadas por veículos fora de estrada, já que a faixa de praia
praticamente havia desaparecido com as ondas e a maré cheia. Chegamos às 15h15
ao quiosque onde eu deixaria os caminhantes relaxando e se reabastecendo com os
comes e bebes, enquanto eu resgataria o Andarilho (a minivan do Ecoando). Em
menos de 20 minutos estávamos novamente juntos.
Partimos
por volta das 16h30, retornando à BR 101 por Cabo Frio (a vinda havia sido por
São Pedro da Aldeia). Nesse trajeto, quem conhecia a área ficou estupefato com
crescimento urbano tão acelerado, agressivo e descaracterizador. Se não fosse
pela existência da APA do Pau-brasil e dos defensores locais da natureza, as
matas e os espetaculares cenários desse lugar único certamente já teriam ido
para as cucuias.
E pensar
que há algumas décadas apenas só passavam por ali aventureiros, pesquisadores e
moradores! Daí a importância da existência de unidades de conservação de
proteção integral e de sua adequada manutenção, para salvaguardar da devastação
áreas ricas em biodiversidade, serviços ambientais e beleza cênica. Ao menos
elas!
Paramos em
uma lanchonete de São Pedro, para nos reabastecer para a viagem de volta para
casa, que foi fluída e embelezada pelas luzes do crepúsculo. Chegamos em
Niterói às 19h, uma hora antes do previsto, sãos, salvos e felizes por dia tão
bem aproveitado e por companhias tão legais.
Obrigado ao
grupo pela possibilidade da realização desse passeio e por sua sinergia em seu
sucesso.
Veja as
fotos desse passeio, em: https://www.ecoando.eco.br/galeria-de-fotos/
ou https://www.facebook.com/pg/ecoando.caminhadas/photos/?ref=page_internal.
Até a
próxima trilha!
Abraços,
Cássio
Garcez
Coordenador
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