MIRANTE DO CAETÉ (SUBSTITUÍDO PELO CIRCUITO GRUMARI) E MINICURSO SOBRE EQUIPAMENTO - 17/08/2019
Devido à
inexistência de qualquer aviso ou comunicado oficial da prefeitura do Rio, da
Riotur ou do Parque Natural Municipal da Prainha até a véspera desse passeio, sobre
a interdição da trilha do Mirante do Caeté - a que iríamos fazer hoje, nesta
unidade de conservação -, eu e os participantes do mesmo demos com a porta na
cara.
Ou seja,
nós e outros visitantes fomos surpreendidos com o impedimento de trilhar um dos
mais famosos e acessíveis roteiros ecoturísticos da Zona Oeste do Rio, devido
não apenas ao fato deste estar arruinado e intransitável por causa de um
temporal que caiu em abril (o mesmo que causou destruição em ruas do Jardim
Botânico), mas também por causa da negligência, da incompetência e da falta de
respeito das autoridades municipais em não divulgar tal interdição.
O silêncio
governamental não se resumia à internet, como no site da Riotur (referência eletrônica
do Parque Natural Municipal da Prainha, acessível em: http://visit.rio/que_fazer/parque-natural-municipal-da-prainha/),
ou à página eletrônica do parque no Facebook (https://www.facebook.com/parquedaprainha/), mas também na ausência de qualquer
placa ou cartaz físico na entrada dessa unidade de conservação (!!!). Algo que
só não causou revolta maior a mim, o responsável pela orientação e segurança do
grupo, e aos participantes, por haver outras alternativas de roteiros equivalentes
próximos.
Enfim,
depois de nos recuperarmos dessa que é apenas uma entre tantas situações
aviltantes que vem acontecendo no Rio desde a posse de Marcelo Crivella na
prefeitura, reuni o pessoal e sugeri substituirmos aquele roteiro pelo Circuito
Grumari, caminhada que faríamos no dia 9 de novembro.
Assim, esta
seria a antecipação de uma estréia na programação do Ecoando, cuja trilha o
guia ainda precisava fazer o reconhecimento (devido à possibilidade de haver
trechos de mato mais fechado), mas que, devido às circunstâncias e com a indispensável
concordância do grupo, valeria ser encarada. Como consolo a um eventual
insucesso dessa nova empreitada, o máximo que poderia acontecer seria darmos
meia volta, os participantes serem ressarcidos ou compensados de alguma forma e
retornarmos para casa. No final das contas, deu tudo certo, felizmente!
Tivemos que
fazer duas viagens com o Andarilho (a minivan do Ecoando) para levar todo o
grupo até o canto sul da Praia de Grumari, onde começaríamos o trajeto
alternativo, pelo fato de algumas pessoas terem vindo de Uber. Por isso,
começamos a caminhada tarde, por volta das 9h30h, seguindo inicialmente pela
estradinha que faz a ligação desta praia com Barra de Guaratiba.
Embora
possa parecer impressão minha, mas achei o clima deste início de caminhada um
pouco tenso. Algo como um misto de apreensão em relação ao que iríamos
encontrar pelo caminho (já que o reconhecimento não havia sido feito) e de
preocupação com a segurança nesse primeiro trecho em estradinha estreita e de
inclinações acentuadas (onde alguns carros desciam a toda velocidade, tirando
finas da gente).
Independentemente
se essa avaliação era subjetiva ou concreta, o que importa é que o astral foi
melhorando à medida em que íamos subindo, adentrando a trilha e retomando as
brincadeiras e encarnações.
Na
realidade, talvez o mal estar maior fosse meu, ao carregar a culpa de achar que
eu poderia ter pesquisado mais na internet para encontrar alguma menção à
interdição da trilha do Caeté.
De qualquer
forma, eu só conseguiria superar esse sentimento à noite, em pesquisas virtuais
mais aprofundadas. E as quais confirmaram que eu realmente não tinha falhado em
minhas buscas, pois só havia uma única menção à interdição num comentário
isolado de visitante do Parque da Prainha na página do Tripadvisor (disponível,
em: https://www.tripadvisor.com.br/ShowUserReviews-g303506-d8382042-r672353871-Parque_Natural_Municipal_da_Prainha-Rio_de_Janeiro_State_of_Rio_de_Janeiro.html).
Aproveitei inclusive
para me juntar a ele nas críticas, que podem ser acessadas em: https://www.tripadvisor.com.br/ShowUserReviews-g303506-d8382042-r711395528-Parque_Natural_Municipal_da_Prainha-Rio_de_Janeiro_State_of_Rio_de_Janeiro.html.
Na cumeeira
daquele contraforte da Serra Geral de Barra Guaratiba, já nos sentíamos em casa
e bem relaxados. Isso porque recebíamos o vento fresco do mar, visualizávamos
nesgas ensolaradas das Praias Primitivas de Barra de Guaratiba e do Morro da
Tartaruga, e nos encantávamos com a beleza e a preservação daquelas matas
pertencentes ao Parque Natural Municipal de Grumari e ao Parque Estadual da Pedra
Branca, em sobreposição de proteções legais.
E o melhor:
descobríamos que o traçado da Trilha Transcarioca agora passava justamente pelo
percurso onde estávamos, desviando-se daquele que eu havia conhecido há alguns
anos, que era por onde subíramos. Ou seja, o receio inicial de encontrar a
trilha fechada pelo mato estava resolvido. A mesma encontrava-se totalmente
liberada, sinalizada e manutenida. Que boa surpresa!
Assim, nas
paradas para descanso, eu repassava ao grupo algumas das diversas informações
sobre o lugar, como a história de índios e populações pré-históricas que
habitavam ali e seus arredores antes dos portugueses, das propriedades que
abarcavam aquelas terras desde a sua doação a Gonçalo de Sá, ainda no Século
XVI, e das duas invasões francesas que começaram com a fracassada investida do
corsário Jean François Duclerc, em 1710, e seu desembarque em Barra de
Guaratiba, bem perto de onde estávamos. E, claro, também sobre a riqueza
ecológica que encontrávamos, a saga da criação daquelas unidades de conservação
sobrepostas e diversas curiosidades.
A esse
respeito, ao passarmos por um local onde abundava a planta conhecida
popularmente como guiné-pipiu (Petiveria alliacea)
- fitoterápico antitumoral nativo das américas e muito utilizado por religiões
de matriz africana em rituais e banhos -, um dos participantes fez
interessantes explanações sobre essa espécie, também chamada não por acaso de amansa-senhor.
Tal nome se
deve ao fato de que, à época da escravidão no Brasil, o extrato ou tempero retirado
dessa planta por cativos era utilizado - nas respectivas e devidas proporções -,
para acalmar, diminuir a libido ou mesmo demenciar senhores de escravos (https://www.greenme.com.br/morar/faca-voce-mesmo/5316-guine-agente-antitumoral-defumacao-banho). Usado em banhos, o vegetal tem o
poder de afastar dores corporais, febres e mal-estar, como este guia pôde
confirmar em experiência própria, há alguns anos.
Mais
adiante, passávamos por um curioso e belo túnel de ervas-de-colônia (lpinia zerumbet (Pers.) B.L.
Burtt.& R.M.Sm.), outra planta medicinal, esta de origem asiática, cujo
chá é usado contra hipertensão e ansiedade (http://farmaciaviva-ufc.blogspot.com/2012/03/colonia.html), além do extrato de suas flores integrar
receitas de bolos.
Ainda mais
à frente, depois de um agradável e geralmente suave sobe e desce, chegamos a um
jardim de bromélias, de onde já podíamos ver a Praia de Grumari, bem próxima.
Após duas
horas de uma caminhada bem pausada e extremamente agradável, chegávamos à rampa
de voo livre de Grumari, onde a deslumbrante paisagem do litoral oceânico carioca
se abre em quase sua totalidade, a leste. Ali lanchamos e ficamos por mais ou
menos 40 minutos, apreciando aquele cartão postal vivo.
A descida
foi bastante tranquila até mais ou menos a cota 100 (a linha imaginária que
demarca os 100 metros
de altitude), quando começaram a aparecer os trechos mais rochosos e com
desníveis maiores.
Apesar de
não haver grande risco na descida destes trechos - desde que a mesma seja feita
com muito cuidado e responsabilidade - o pessoal que não estava muito acostumado
com alturas precisou ser mais atentamente orientado pelo guia. Mas, passado o
susto destes e já no final da trilha, que sai nas areias da praia, a
comemoração da chegada deve ter tido um gostinho ainda maior para eles.
Ao saber
que o pessoal que viera de Uber não participaria da segunda etapa dessa
atividade - o minicurso sobre equipamento, na Decatlhon - deixei o restante do
grupo aguardando num dos restaurantes de praia, enquanto eu levava os primeiros
para a Praia da Macumba, lugar menos problemático em se tratando de corridas de
aplicativo.
Completada
essa faina e após resgatar o povo que ficara no bem bom, tomando suas
cervejinhas e comendo petiscos à beira mar, fomos em direção àquele verdadeiro
supermercado de equipamentos esportivos. O tema do minicurso focaria na análise
de materiais para caminhadas e afins, seus usos corretos e dicas. Mas antes, faríamos
uma boquinha em restaurante localizado no Freeway, centro comercial onde se
localiza a megaloja.
A refeição,
o curso, as compras e o lanche da tarde consumiram algo em torno de duas horas
e meia de nosso tempo, nos fazendo voltar para casa já escurecendo.
Embora a
atividade como um todo tenha ficado um pouco cansativa aos participantes,
devido a essa junção de caminhada e curso no mesmo dia, a praticidade de se
aproveitar a viagem para cumprir dois eventos tão produtivos acabou valendo
bastante à pena.
Agradecimentos
aos participantes, pela paciência, pela confiança e pela proatividade.
Veja as
fotos desse passeio, em: https://www.ecoando.eco.br/galeria-de-fotos/
ou https://www.facebook.com/pg/ecoando.caminhadas/photos/?ref=page_internal.
Cássio
Garcez
Coordenador
e guia do Ecoando
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