DESFILADEIROS DO VALE DO SAHY - 25/01/2020

Foto 1: grupo no mirante do Caminho das Águas do Sahy, com a visão da praia homônima, da Ilha Guaíba e da Ilha Grande, ao fundo.



Por conta da alta instabilidade do tempo e de algumas previsões de chuva para este dia, deixei a participação facultativa. Por sorte, a maior parte do grupo - formado não por acaso por mulheres, geralmente mais corajosas que os homens - pagou para ver e confiou nas previsões mais promissoras da meteorologia, não se arrependendo por isso.

Chegamos exatamente às 8h à sede do Parque Estadual de Cunhambebe, no Vale do Sahy, aproveitando para (re)conhecer as exposições do centro de visitantes (foto 2). O guarda-parque Adriano nos recebeu de forma muito cordial e prestativa.

Foto 2: grupo no centro de visitantes do Parque Estadual de Cunhambebe, acompanhados do guarda-parque Adriano.


De volta ao Andarilho (a minivan do Ecoando), continuamos pela estrada de terra até próximo de seu final, onde o estacionamos e começamos a caminhada. Eram aproximadamente 9h.

Caminhamos pela trilha que outrora foi intensamente utilizada para conduzir escravizados que desembarcavam na Praia do Sahy em direção a fazendas de café serra acima, especialmente após a proibição do tráfico negreiro, em 1850, com a Lei Eusébio de Queiróz. Esta e outras histórias e informações eu ia compartilhando com o grupo a medida em que subíamos o belo e outrora dramático caminho.

Assim, chegamos ao ponto mais alto de nossa caminhada, o Poço de Santa Bárbara, pouco depois das 11h. Alguns minutos antes, porém, havíamos subido um pouco mais, para apreciar as belas paisagens vistas de um mirante natural do Caminho das Águas do Sahy (foto 1), nome que o Inea passou a utilizar para designar este trajeto.

Deste mirante, vislumbrávamos desde a Praia do Sahy, onde desemboca o rio que iríamos nos banhar, até a Ilha Guaíba e sua ponte ferroviária utilizada para embarque de minério de ferro, além dos contornos da porção leste da Ilha Grande. Paisagens até então banhadas de sol e emolduradas por bons pedaços de céu limpo,que iriam escassear logo que chegaríamos àquele poço.

No entanto, mesmo com o tempo nublado à hora de cairmos na água, fazia calor suficiente para motivar um bom mergulho (foto 3). Que foi o que a maior parte das participantes fez. Já outras, preferiram ficar lagarteando nas pedras da beira do rio. Permanecemos ali em torno de uma hora.

Foto 3: banho de rio no Poço de Santa Bárbara.


A descida até o Poço dos Escravos - o próximo, rio abaixo -, durou algo em torno de 40 minutos. Só ali encontramos com outro grupo, que parecia bem tranquilo e integrado ao local.

Como neste lugar quase ninguém de nosso grupo se animou a cair na água, ficamos a maior parte do tempo relaxando nas pedras e curtindo os belos visuais (foto 4). Ainda pretendíamos ficar mais um pouco, mas uma garoa que caiu durante alguns minutos apenas, nos espantou dali.

Foto 4: nosso grupo e o outro, mais abaixo, lagarteando nas pedras do Poço dos Escravos.


O terceiro poço, onde está a Cachoeira do Sahy, de aproximadamente 6 metros de altura e que seria nosso virtual próximo objetivo, foi abortado pelo fato de nenhuma das participantes ter se animado a descer (e subir de volta) a íngreme colina de acesso. A falta de motivação para esta última visita pode ter sido o receio de a chuva voltar mais forte, ou o relaxamento proporcionado pelos outros poços ou ainda preguiça mesmo - todos motivos legítimos.

Ainda assim, para compensar essa subtração mesmo que voluntária e unânime, ofereci ao grupo a visita às ruínas da Praia do Sahy, opção que foi aceita na hora e efusivamente.

Saímos da trilha pouco depois das 14h, com as participantes prosseguindo a pé pela estradinha (e este guia acompanhando-as a bordo do Andarilho) até um singelo restaurante, onde comemos mocotó, frango assado e peixe, além de brindar com cerveja ou refrigerante (foto 5).

Foto 5: brinde no restaurante onde paramos para forrar o estômago, depois da caminhada.


Terminada a comilança, reembarcamos no Andarilho em direção à Praia do Sahy, onde estacionamos em suas imediações por volta das 16h30.

Pegamos o caminho usado por banhistas para acessar a faixa de areia, atravessamos a linha férrea e andamos pela praia por cerca de 300 metros até o conjunto de ruínas que atestam o poderio à margem da lei de barões do café (foto 6). E que só agora vêm sendo estudadas com mais atenção por arqueólogos e historiadores, em busca de respostas às diversas questões ligadas a esse local - entre elas, a razão de praticamente não existir documentos históricos a seu respeito.

Foto 6: caminhante ao lado de resto de parede, durante a visita ao conjunto de ruínas da Praia do Sahy, depois da caminhada.


O conjunto de paredes grossas construídas com pedras de mão, conchas trituradas e borra de óleo de baleia impressiona tanto por sua imponência e extensão, quanto por seus objetivos de entreposto do tráfico negreiro. Uma escadaria chama a atenção por terminar na areia da praia, onde deveria existir uma longa ponte, onde possivelmente atracavam os tumbeiros que vinham de além mar, ou os vapores que traziam os escravizados da Ilha da Marambaia, local em que muitos ficavam em quarentena, para desembarque.

Enquanto eu repassava ao grupo informações sobre a escalada e queda do café no cenário nacional do século XIX, sobre a escravidão e também sobre a resistência negra, uma fruta-pão espatifou-se a alguns poucos metros de nós. Para algumas participantes, sinal de que energias densas do sofrimento de milhares de pessoas que por ali passaram ainda estariam presentes e se manifestando. Pelo sim ou pelo não, nos afastamos daquela área, até para atenuar o risco de levarmos outra fruta-pão na cabeça.

Fizemos uma caminhada em volta dessas ruínas, que não são as únicas no local, retornando ao Andarilho uma hora depois e, ao Rio, em menos de duas horas.

Veja mais fotos desse e de outros passeios do Ecoando, em: https://www.ecoando.eco.br/galeria-de-fotos/.

Abraços,

Cássio Garcez
Coordenador

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