PÔR DO SOL NO MIRANTE DA TAPERA - 08/02/2020

Foto 1: momento do pôr do sol antecipado, atrás das nuvens.



Talvez por causa do medo do calor e da chuva presentes em todos os finais de tarde das últimas semanas, ou por causa do pavor de se caminhar na mata à noite, ou mesmo por conta da eventual precaução contra a violência urbana (apesar da segurança do lugar), apenas duas pessoas se animaram a se inscrever neste passeio.

Uma grande pena outros interessados terem deixado de se inscrever por causa justamente desses e de outros receios, tanto por se privarem de uma atividade extraordinária, quanto por ela ter sido formatada justamente para tentar driblar cada um desses problemas. Como vento fresco da tarde contra o calor, previsões em tempo real e favoráveis contra a chuva, maior segurança em se caminhar de lanterna do que durante o dia e monitoramento permanente de informações contra a violência urbana.

Ou seja, quem pagou para ver se deu bem. E quem não pagou, deve ter ficado bem frustrado.

Assim, entramos na trilha por volta das 16h30, depois de termos nos informado com um grupo que acabava de sair dela, sobre as condições do caminho. Fechado pelo mato em alguns locais, mas permitindo a passagem, como imaginávamos.

Tais informações batiam com o que o administrador do Parnit (Parque Natural Municipal de Niterói), Alex Figueiredo, já havia me alertado, de que o número de árvores partidas por um vendaval recente era insólito. A sensação era de que alguém havia passado uma motosserra gigante em muitas copas, ao conferir ao vivo o resultado desse fenômeno. Por sorte, nenhuma delas fechava totalmente o caminho, embora víssemos grandes amontoados de troncos e folhagens em algumas passagens. E também várias novas clareiras.

Nesta subida, mesmo caminhando à sombra e tendo o refresco da brisa do mar em alguns momentos, pingávamos de suor, não só por causa do aquecimento físico e do calor daquela tarde ensolarada, mas também talvez devido à grande umidade do ar deixada pelas chuvas dos dias anteriores. Por sorte, esse incômodo durou bem pouco, confirmando aquilo que eu havia antecipado.

Às 17h, chegamos ao Mirante da Região Oceânica (foto 1), aquele que fica do lado oposto ao Mirante da Tapera, este o objetivo principal da caminhada. Ambos são afloramentos rochosos do mesmo contraforte do Morro da Viração, com belíssimas e variadas vistas.

Foto 2: paisagens da Região Oceânica de Niterói vistas do mirante oposto ao da Tapera.


Neste que acabávamos de chegar, era possível identificar desde o Morro de Santo Inácio e as antenas do Mirante da Cidade (antigo Parque da Cidade), passando pela Pedra do Cantagalo e Morro do Jacaré, até montanhas da Serra dos Órgãos, lagoas de Piratininga e Itaipu, e ilhas oceânicas de Niterói. Tudo isso apreciado de um amplo platô de rocha, sombreado e batido por um vento tão fresco que, à hora da saída, 40 minutos depois, teve gente quase sentindo frio - coisa rara e valiosíssima nessa época de altas temperaturas.

Depois dessa primeira canja de belezas, relaxamento e integração à natureza, partimos em direção ao Mirante da Tapera (foto 3), esgueirando-nos nos trechos de mato mais fechado e baixo, um pouco antes das ruínas que dão nome ao afloramento rochoso. Eram 18h quando chegamos lá, ficando a sós - assim como no mirante anterior - durante toda a nossa permanência no local.

Como ainda demoraria meia hora para o pôr do sol, pudemos curtir com calma as paisagens e conversar demoradamente sobre alguns dos temas e atrativos dessa área. Entre elas, o extermínio da Aldeia do Imbuhy pelo Exército, o naufrágio do Magdalena em 1949 (o Titanic brasileiro), a saga da fundação da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro na várzea entre os morros Cara de Cão e Pão de Açúcar, as populações pré-históricas que habitaram durante milênios essa região, a existência da antiga Ilha da Trindade, as invasões francesas, etc. O que não faltava era informação de qualidade.

Foto 3: paisagens da entrada da Baía de Guanabara, vistas do Mirante da Tapera.


Exatamente às 18h30, o sol começou a se esconder atrás do manto de nuvens que emolduravam as montanhas do Rio (foto 1), antecipando em alguns minutos o tão esperado espetáculo. Por causa disso, tivemos um pouco de dificuldade em olhar para o oeste, em função do brilho ainda intenso do astro-rei. Só conseguimos olhar com mais tranquilidade e segurança apenas no final do mergulho, quando o contorno das nuvens pareciam ter engolido os últimos raios solares. Ficamos durante alguns minutos num silêncio de reverência àquele momento mágico.

Ainda permanecemos 15 minutos no mirante, aguardando o nascer da lua cheia, que eu desconfiava já ter acontecido por detrás da mata que impedia nossa visão. Por isso, fomos em seu encalço, retornando ao mirante anterior. Já na trilha demos de cara com ela, plena, em céu límpido (foto 4).

Foto 4: lua cheia vista da trilha.


De volta ao Mirante da Região Oceânica, permanecemos por outros 20 minutos apreciando o disco lunar e as mesmas paisagens de alguns momentos mais cedo, agora adornadas com as luzes urbanas (foto 5). Antes de começarmos a descida, por volta das 19h30, ainda fizemos um exercício do silêncio poderoso, que complementou com mais beleza e energia atividade já tão rica.

Foto 5: guia contemplando a lua cheia. Autora: Claudia Baruke.


No retorno, dentro da mata, vez por outra parávamos e apagávamos nossas lanternas para contemplar a beleza e o mistério do cenário ora totalmente escuro e ora banhado pela luz da lua. Em vários desses momentos vimos cucujos, besouros luminosos confundidos com vaga-lumes e considerados os insetos mais brilhantes do mundo (veja mais sobre isso, em: https://hypescience.com/besouro-de-fogo-cucujo-pyrophorus-noctilucus/)

Saímos da trilha mais ou menos às 20h30, sãos e salvos, como sempre, mais uma vez contrariando o preconceito arraigado no senso comum de que caminhar à noite na mata é perigoso. No Ecoando, fazemos isso há quase tanto tempo quanto nossa existência, ou seja, pouco menos de 30 anos, sempre com muita segurança e encantamento. E também com responsabilidade e cuidado extremos, inclusive previamente à atividade, na pesquisa e monitoramento sobre os eventuais riscos no local.

Por isso, agradeço à dupla que confiou em nosso trabalho e assim possibilitou a realização de atividade tão extraordinária.

Veja mais fotos desse e de outros passeios do Ecoando, em: https://www.ecoando.eco.br/galeria-de-fotos/.

Abraços,

Cássio Garcez
Coordenador


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